quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Quantificando aquecimento

Em recente discurso, o Secretário Geral da ONU anunciou o fim da era do 'Aquecimento Global' inaugurando a 'Era da Ebulição Global', daí, estimativas de custos das mudanças climáticas são feitas em termos monetários levantando questões éticas. Em termos de número de pessoas deixadas fora do "nicho climático humano", definido como distribuição historicamente conservada da densidade relativa da população humana em relação à temperatura média anual, consideraremos que mudanças climáticas colocaram 9% das pessoas ou 600 milhões fora desse nicho, sendo que ao final do século, 2080–2100, as políticas atuais que levariam a aquecimento de 2,7 °C poderiam deixar um terço, 22%–39%, das pessoas fora do nicho. A redução do aquecimento global de 2,7 ºC à 1,5 °C resulta reduzir 5 vezes a população exposta ao calor sem precedentes ou temperatura média anual de 29 °C, sendo que emissões ao longo da vida de 3,5 cidadãos globais médios hoje, ou, 1,2 cidadãos médios dos EUA, expõem uma futura pessoa a calor sem precedentes até o final do século oriunda de lugar onde as emissões hoje são metade da média global, esses resultados destacam necessidade de ação política mais decisiva para limitar custos humanos e desigualdades das mudanças climáticas.

Apesar das promessas e metas para enfrentar mudança climática, políticas atuais deixam o mundo em curso à cerca de 2,7 °C de aquecimento global no fim do século acima dos pré-industriais e longe do objetivo do Acordo de Paris para limitar o aquecimento a 1,5 °C. Mesmo implementando contribuições determinadas até 2030, promessas de longo prazo e metas líquidas zero, um aquecimento de 2 °C é esperado neste século com apelos por justiça climática destacando necessidade de abordar injustiças sociais causadas pelas mudanças climáticas. Trabalhos consideram como a variabilidade e mudanças climáticas afetam morbidade ou mortalidade, sobre abordagem ecológica, considerando exposição a condições climáticas menos favoráveis definidas como desvios da densidade populacional humana em relação ao clima da distribuição historicamente conservada ou "nicho climático humano". O nicho climático das espécies integra fatores causais, incluindo efeitos combinados de fisiologia e ecologia em que seres humanos adaptaram-se fisiologicamente e culturalmente a ampla variedade de climas locais, mas, apesar disso, nosso nicho mostra pico primário de densidade populacional em temperatura média anual, MAT, de 13 °C e um pico secundário em 27 °C associado a climas de monção no sul da Ásia. A densidade de cultivos domesticados e pecuária seguem distribuições semelhantes, assim como o PIB que compartilha o pico de temperatura identificado independentemente, ou, 13 °C. A mortalidade aumenta em altas e baixas temperaturas consistente com a existência de um nicho cuja exposição fora do nicho resulta em aumento da morbidade, mortalidade, adaptação no local ou deslocamento, migração em outro lugar. Altas temperaturas se associam a aumento da mortalidade, queda da produtividade do trabalho, do desempenho cognitivo, aprendizado prejudicado, resultados adversos da gravidez, diminuição do potencial de rendimento da colheita, aumento de conflitos, discurso de ódio, migração e disseminação de doenças infecciosas sendo que as fontes de danos relacionadas ao clima não capturadas pelo nicho incluem aumento do nível do mar. Dentre os efeitos climáticos diretos incluem impactos na saúde e mudanças de comportamento percepções humanas de conforto térmico evoluíram para se manter perto das condições ideais de 22–26 °C, com bem-estar diminuindo acima de 28 °C. Mudanças comportamentais incluem alteração de roupas, mudança de ambiente, inclusive ambientes fechados, e alteração de padrões de trabalho amortecendo exposição individual a temperaturas extremas e afetando bem-estar coletivo por meio de efeitos no trabalho. Os efeitos indiretos do clima ocorrem onde o clima influencia a distribuição e abundância de espécies ou recursos que sustentam ou afligem seres humanos, em que condições mais quentes e úmidas tendem favorecer vetores de doenças humanas. A maioria da população mundial permanece dependente do acesso à água doce e vive a menos de 3 km de um corpo de água doce na superfície e cerca de 2 bilhões de pessoas dependem da agricultura de subsistência e, portanto, do nicho climático das plantações, além de 120 milhões de pastores dependendo de animais domesticados, como mamíferos,têm limites fisiológicos semelhantes aos humanos sendo que altas temperaturas diminuem o potencial de rendimento das culturas e o aquecimento está espalhando pragas e patógenos das culturas. As principais culturas de sequeiro, milho, arroz, trigo, estão migrando, algo mitigado pelo aumento da irrigação sugerindo que o avanço tecnológico tem potencial limitado para expandir o nicho climático humano no futuro.

Moral da Nota: a estimativa que o aquecimento global desde 1960-1990 colocou mais de 600 milhões de pessoas fora do nicho de temperatura é consistente com impactos atribuíveis das mudanças climáticas que afetam 85% da população mundial. Acima do nível atual de 1,2 °C de aquecimento global, prevê-se que a exposição a temperaturas médias sem precedentes, MAT ≥29 °C, aumente acentuadamente, aumentando exposição a temperaturas extremas, consistente com o fato do calor úmido extremo ter mais que dobrado em frequência desde 1979, associado à perda de mão de obra de 148 milhões de empregos equivalentes em tempo integral, com a exposição em áreas urbanas aumentando para 23% da população mundial de 1983 a 2016 devido a crescentes ilhas urbanas de calor e o total da população urbana exposta triplicou devido à mudança demográfica. Índia e Nigéria mostram "pontos quentes" de maior exposição ao calor extremo pelo aquecimento, consistente com a previsão que correm maior risco futuro. Essas e outras economias emergentes, Indonésia, Paquistão e Tailândia, dominam o total da população exposta a calor sem precedentes em mundo 2,7 °C mais quente e seus compromissos de política climática desempenham papel significativo na determinação do aquecimento global do final do século. Efeitos combinados de temperatura e mudança demográfica são estimativas superiores porque, a qualquer momento, o método limita a densidade populacional absoluta do pico de temperatura mais alta com base na densidade populacional absoluta do pico de temperatura mais baixa. No entanto, viés de crescimento populacional para lugares quentes aumenta claramente a proporção de pessoas expostas a danos causados por altas temperaturas prevendo-se que lugares mais frios se tornem mais habitáveis, mas, não são onde o crescimento populacional está concentrado. No geral, os resultados ilustram enorme custo humano potencial e a grande desigualdade da mudança climática, informando discussões sobre perdas e danos com os piores cenários de 3,6 °C ou 4,4 °C de aquecimento global colocariam metade da população mundial fora do nicho climático histórico, representando risco existencial. O aquecimento global de 2,7 °C esperado sob políticas atuais coloca um terço da população mundial fora do nicho expondo quase toda a área de alguns países, por exemplo, Burkina Faso, Mali, a calor sem precedentes, incluindo Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, por exemplo, Aruba, Antilhas Holandesas, um grupo com membros que enfrentam problema de elevação do nível do mar Atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C reduz pela metade a exposição fora do nicho de temperatura em relação às políticas atuais e limita as pessoas expostas ao calor sem precedentes a 5%, deixando países menos desenvolvidos, por exemplo, Sudão, Níger, Burkina Faso, Mali, com grandes populações expostas, adicionando desafios de adaptação a uma armadilha de investimento climático existente. Os resultados mostram potencial à política climática mais decisiva à limitar custos humanos e desigualdades das mudanças climáticas.