terça-feira, 16 de maio de 2023

A crise da água

O rio Colorado fornece água e energia hidrelétrica à 40 milhões de norte americanos, enquanto o Lago Mead armazena água que fornece aos estados como Califórnia, Arizona e Nevada, México e 20 reservas indígenas com a seca induzida pela mudança climática levando a altas taxas de evaporação, reduzindo abastecimento de água e o Lago Mead em 29% de sua capacidade. O uso residencial representa 13% da água retirada do rio Colorado e, conforme pesquisa publicada na Nature Sustainability, a maior parte é usada pelos agricultores para irrigar as plantações com 70% para alfafa, feno, silagem de milho e gramíneas para engordar gado de corte e  leite, sendo que  outras culturas, como soja, milho, trigo, cevada e algodão, podem ser usadas para alimentação animal. A Califórnia extrai mais água do rio  Colorado que qualquer outro estado e a maior parte vai ao Imperial Valley, uma das regiões mais produtivas dos EUA com dois terços dos vegetais produzidos nos meses de inverno, no entanto,  terras agrícolas do Imperial Valley se dedicam à alfafa e gramíneas ao gado. No Arizona, o abastecimento de água de reserva da Phoenix é drenado ao cultivo de alfafa pela Fondomonte, empresa saudita de laticínios que a envia para alimentar rebanhos domésticos no Oriente Médio. Nos 17 estados ocidentais, 10% da alfafa é enviada à Ásia e Oriente Médio, onde o consumo de carne e laticínios é baixo comparado aos EUA, mas, em ascensão.

Uma seca é produto de oferta e demanda e, no oeste americano, é usada para cultura de baixo valor, a alfafa, enquanto as cidades gastam em infraestrutura de economia para manter o sistema funcionando e garantir reservas.  Por conta da forma como os direitos sobre a água nos EUA foram obtidos e, decorrente a escassez, coloca-se como centro de um conflito entre a Califórnia e demais usuários do rio Colorado.  No leste americano, direitos à água são determinados na chamada doutrina ribeirinha, todos que vivem perto de um corpo de água têm o mesmo direito de usá-lo e, direito, a “uso razoável”, enquanto no oeste dos EUA, as coisas são diferente. Direitos da água no Oeste americano foram determinados sob leis estaduais pelo que é chamado de doutrina de apropriação prévia, dando direitos de água à quem primeiro a usa e que retêm enquanto continuarem a usá-la.  A questão é que os direitos foram arrebatados por mineradores na era da Corrida do Ouro de 1800 e fazendeiros nas décadas seguintes que vieram ao Oeste após parte dessa água e terra ter sido retirada de indígenas.  Em tempos de escassez,  detentores mais antigos dos direitos da água, muitos deles agricultores, têm prioridade sobre retardatários, como os milhões de habitantes urbanos do oeste americano acarretando conflitos repetidos e, como diz o velho ditado ocidental, "uísque é para beber, água é para lutar".  150 anos após a Corrida do Ouro, as lutas pela doutrina da apropriação anterior são mais acirradas, em comunidades e entre estados, como o Condado de Cochise, Arizona, residentes contra um mega-laticínio que consome grandes volumes de água, ou, os 6 estados do rio Colorado que concordaram reduzir seu uso para compensar o déficit, enquanto a Califórnia recusa comprometer-se com reduções necessárias com fazendeiros argumentando que não precisam cortar o uso de água tão drasticamente porque possuem direitos superiores.  O Departamento do Interior publicou análise detalhando 3 opções a serem tomadas caso os estados não cheguem a acordo, ou,  não fazer nada, fazer cortes com base nos direitos de água existentes ou cortar alocações de água uniformemente entre Califórnia, Arizona e Nevada. O governo Biden anunciou em 2022 que usaria parte dos US $ 4 bilhões em mitigação da seca da Lei de Redução da Inflação para pagar agricultores, cidades e indígenas para reduzir o uso de água. Adaptar-se às mudanças climáticas inclui mudar o que se come, soluções de curto prazo ajudam estados do rio Colorado enfrentar a seca mas, a longo prazo, formuladores de políticas e produtores de alimentos terão que repensar como cultivamos e comemos no clima em mudança sendo insuficiente mudar apenas as práticas agrícolas.

Moral da Nota: a França caminha para um verão pior que experimentou em 2022, cujos níveis das águas subterrâneas continuam despencar, com a  parte sul do país, devastada por incêndios florestais e tempo seco. O serviço geológico francês BRGM disse que o país sofreu sua pior seca no verão  de 2022 e o clima seco gerou preocupações sobre a segurança da água no continente europeu. Os níveis das águas subterrâneas estão abaixo dos de 2022 e  partes da França precisariam introduzir restrições hídricas no verão,  nas regiões centrais e ao redor Paris. Já, a autoridade do Canal do Panamá, impõe restrições de menor calado aos maiores navios que passam pela principal rota comercial global, decorrente a queda dos níveis de água em lagos próximos que fazem parte da hidrovia.  As restrições significam que navios porta-contêineres, neo-Panamex, que  cruzam o canal devem cumprir profundidade máxima de 47,5 pés, abaixo dos 50 pés, obrigando-os a pesar menos ou transportar menos mercadorias. As medidas decorrem de seca, levando ao quinto ajuste desse tipo desde o início do ano e não forneceram data ao término da medida, descrita por enquanto como temporária, esperando que possa "ser suspensa o mais rápido possível" .