Pesquisa financiada pelos Fundos de Desenvolvimento Docente da Universidade de Harvard e o Fundo da Família Rockefeller, publicada na revista Science, analisa documentos da Exxon mostrando que a empresa estava ciente da ligação entre combustíveis fósseis e mudanças climáticas desde a década de 1970. Analisa mais de 100 relatórios da Exxon entre 1977 e 2014 e os reduziram a 12 documentos contendo projeções climáticas comparadas com observações históricas. O relatório informa que cientistas da ExxonMobil fizeram projeções climáticas precisas entre 1977 e 2003, além de, hábeis em prever o aquecimento global subseqüente contradizendo afirmações públicas da empresa que continuou lançar dúvidas sobre a ciência do clima e fazer lobby contrário. Descobriram que a ciência da empresa não era apenas boa o suficiente para prever o aumento da temperatura a longo prazo, prevendo com precisão quando a mudança climática causada pelo homem se tornaria perceptível. Estudo de 2017 revisado por pares, examinou quase 190 comunicações públicas e privadas da empresa e descobriu que, embora a maioria dos documentos internos reconhecesse o aquecimento global causado pelo homem, a maioria de suas declarações públicas expressavam dúvidas.
O relatório foca nos dados da empresa, revelando que ela sabia quando o aquecimento ocorreria com precisão surpreendente e, usando critérios do IPCC, descobriu que 63-83% das projeções de aquecimento global relatadas na ExxonMobil eram consistentes com as temperaturas observadas. As projeções da ExxonMobil tiveram 'pontuação de habilidade' média de 72 ± 6%, com a pontuação mais alta de 99%, no entanto, projeções da NASA apresentadas ao Congresso dos EUA em 1988 tiveram pontuações de habilidade entre 38% a 66% e, considerando diferenças entre níveis atmosféricos de CO2 previstos, a 'pontuação de habilidade' da ExxonMobil sobe a 75% ± 5%, com sete projeções marcando 85% ou mais. O relatório conclui que “a maioria das projeções prevê com precisão o aquecimento consistente com as observações subsequentes” além de "consistentes e, pelo menos, tão habilidosas quanto as dos modelos acadêmicos e governamentais independentes" e que "a Exxon e a ExxonMobil Corp rejeitaram corretamente a perspectiva de uma era glacial, previram com precisão quando o aquecimento global causado pelo homem seria detectado pela primeira vez e estimaram 'orçamento de carbono' para manter o aquecimento abaixo de 2°C, no entanto, declarações públicas da empresa sobre a ciência do clima contradiziam seus dados científicos." “Quando a empresa estava fazendo afirmações sobre dúvida e incerteza, pelo menos no início dos anos 2010, o fazia com consciência que sua própria ciência contradizia essas afirmações”.
Moral da Nota: cidades, condados e estados norte americanos promovem ações judiciais contra empresas de combustíveis fósseis, incluindo a Exxon, acusando-as de enganar o público sobre seu papel na aceleração das mudanças climáticas. A Exxon diz que esses processos não têm mérito, no entanto, não estava apenas ciente do efeito estufa, tinha equipes de cientistas desenvolvendo modelos para projetar efeitos das emissões de carbono no clima global, modelos, ao que parece, altamente precisos. A maioria dos processos foi movida de acordo com leis estaduais de proteção ao consumidor e os juízes de apelação de Rhode Island em 2022, Havaí, rejeitaram tentativas de anular os processos de responsabilidade, daí, a indústria petrolífera pediu ao Supremo Tribunal dos EUA para intervir, dizendo que os processos representam “enorme passivo monetário” às empresas, a título de comparação, semelhantes aos processos contra a indústria do tabaco que culminaram em 1998 em acordo de US$ 206 bilhões. A empresa diz que os críticos estão errados e que as descobertas mostram apenas que seus cientistas estavam acompanhando a evolução da pesquisa climática. O porta-voz Todd Spitler disse que a pesquisa climática da Exxon levou a quase 150 artigos, incluindo mais de 50 publicações revisadas por pares que a empresa disponibilizou ao público e que “o entendimento da Exxon Mobil sobre ciência climática se desenvolveu junto com o da comunidade científica mais ampla”, acrescentou que, “essa questão surgiu várias vezes nos últimos anos e, em cada caso, nossa resposta é a mesma àqueles que falam sobre como ‘Exxon Knew’: estão errados em suas conclusões”. Ed Garvey, que trabalhou em ciência climática para a Exxon no final dos anos 1970, em entrevista disse que “temos nossos cientistas fazendo boa ciência, mas nosso conselho corporativo não está ouvindo”.
Em tempo: está ocorrendo em Abu Dabi o 7º Fórum Global anual de Energia, organizado pelo Atlantic Council, parte das atividades da Semana de Sustentabilidade de Abu Dhabi, ADSW, com a participação dos líderes de energia mais influentes do mundo para definir agenda global de energia e conduzir a transição. O Fórum deste ano se insere em estratégia do clima e energia além de esforços de descarbonização, visando a Conferência de Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, COP28, que os Emirados Árabes Unidos sediarão em 2023.