quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

O Rio Sena

Históricamente conhecido pelo nível de poluição, o rio Sena em quase um século foi proibido nadar pelos elevados níveis de bactérias e outros contaminantes, no entanto, os Jogos Olímpicos 2024 trouxeram a mobilização necessária à França empreender projeto de saneamento em investimento de mais de US$ 1,5 bilhão, esforço que procurou transformar o Sena em local seguro às competições aquáticas, desafio que se revelou mais complexo que o esperado. Foram implementadas tecnologias de tratamento de águas residuais, dentre elas, a filtração por membranas e o uso de bactérias benéficas para decompor contaminantes, técnicas críticas não só à eventos de grande escala, mas à gestão diária de águas residuais urbanas no mundo, no entanto, a qualidade da água do rio permanece inconsistente pós fortes chuvas que despejam esgotos no rio. A questão veio à tona quando dois nadadores de triatlo, Claire Michel, da Bélgica, e Adrien Briffod, da Suíça, adoeceram depois de competir no rio, com Michel se retirando da competição de revezamento misto devido doença não especificada, enquanto Briffod desenvolveu infecção gastrointestinal, embora não tenha sido confirmado que as doenças estejam diretamente relacionadas com a qualidade da água do Sena com a coincidência suscitando dúvidas entre atletas e organizadores. Chuvas em Paris mostraram como acontecimentos climáticos afetam níveis de poluição em que tecnologias preditivas em dados podem fazer diferença cujos sistemas de análise podem antecipar eventos climáticos e planejar respostas eficazes, minimizando impacto na qualidade da água, com cidades inteligentes utilizando estes sistemas para gerir infraestruturas e mitigar efeitos adversos do clima, já que as chuvas não só estragam a aparência do rio mas trazem poluentes que colocam em risco a saúde. Vale a nota que no passado houveram esforços para limpar rios e melhorar a qualidade da água, tentativas que variaram em abordagem e tecnologia adaptando-se às necessidades e conhecimentos da época, com a humanidade reconhecendo a importância da água limpa, civilizações indígenas desenvolvendo métodos de tratamento de água em harmonia com a natureza através de sedimentação e filtração, embora tais práticas sejam subestimadas e nem sempre documentadas devido à marginalização destas culturas, no Império Romano construíram aquedutos, sistemas que transportavam água limpa de fontes distantes às cidades, essenciais para manter higiene e abastecimento e sua queda marcou retrocesso em tecnologias de tratamento de água com inovações esquecidas. A Revolução Industrial transformou os rios em depósitos de resíduos industriais com o rio Cuyahoga, em Cleveland, se incendiando pelo menos 13 vezes devido poluição de petroquímicos e, em 1969, se atentou à necessidade de regular a poluição da água levando à promulgação nos EUA da Lei da Água Limpa em 1972, lei que estabeleceu padrões à qualidade da água e regulamentou descargas de poluentes em rios, marco na legislação ambiental buscando transformar rios altamente poluídos em recursos mais limpos e seguros.

O Sudeste Asiático abriga as maiores áreas de turfeiras tropicais e manguezais do mundo, na Índia e Bangladesh, com regiões que podem armazenar mais de 90% do carbono em solos em vez de vegetação, compartilhando solos de água com oxigênio limitado que retardam a decomposição da matéria orgânica, tornando-os sumidouros de carbono mais eficazes, embora ocupem 5% das terras da região, desempenham papel importante nas metas de redução de emissões e fazem esforço crucial para atingir as metas climáticas dos países da ASEAN. Estudo publicado na Nature Communications destaca benefícios significativos da conservação e restauração de turfeiras e manguezais, sendo que a meta de mitigar emissões de carbono não será alcançada se forem destruídas ou interrompidas devido a mudanças no uso da terra e períodos de seca, como o El Niño, que pode prejudicar a qualidade do ar em países como Singapura. Fornece estimativas de emissões de turfeiras e manguezais com o professor associado Massimo Lupascu, pesquisador principal do estudo, explicando que, “se conservássemos e restaurássemos as turfeiras e os manguezais densos em carbono no Sudeste Asiático, poderíamos mitigar 770 megatoneladas de CO2 equivalente, MtCO2e, anualmente, ou, quase o dobro das emissões nacionais de gases efeito estufa da Malásia em 2023.” Enquanto o professor David Taylor, coautor, destaca importância de incluir esses ecossistemas nas NDCs do Acordo de Paris, esclarecendo que, “incluir turfeiras e manguezais nas Contribuições Nacionalmente Determinadas, NDCs 3.0, que os países signatários do Acordo devem atualizar e se comprometer a cada 5 anos, pode contribuir para aumentar o estabelecimento de metas mais altas de redução de emissões, embora envolva investimentos em conservação e restauração eficazes.”O estudo fornece estimativas atualizadas de emissões de turfeiras e manguezais perturbados no Sudeste Asiático de 2001 a 2022, discriminadas por tipo de uso da terra e país, dando aos formuladores de políticas dados para identificar pontos críticos à intervenção e priorizar esforços de conservação, considerando que os manguezais podem reduzir as emissões de carbono no Sudeste Asiático em 50%, considerando que, mais de 90% do carbono é armazenado no solo em vez da vegetação, tornando-os sumidouros naturais de carbono do mundo.

Moral da Nota: são descartados 5,7 milhões de tubos de pasta de dente, 570 mil celulares e 2,3 milhões de pares de tênis a cada hora, sendo que a produção de plásticos é insustentável, prejudicial à saúde e cresce exponencialmente, considerando que a reciclagem, "na melhor das hipóteses, consome energia" no descarte de plásticos no ambiente que contêm milhares de produtos químicos, grande parte não testados, provavelmente tóxicos enquanto os que conhecemos se associam do autismo e TDAH à infertilidade e diabetes. Novas regras propostas pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA que restringiriam ou proibiriam  produtos tóxicos usados ​​na fabricação industrial, foram apresentados como "escolha difícil" à Casa Branca que busca equilibrar agenda econômica e saúde pública em que o enquadramento “saúde pública versus crescimento econômico” é inútil e demonstravelmente falso, sendo a única “escolha difícil” a ser feita é se devemos continuar com um modelo ultrapassado e tóxico que beneficia algumas empresas regressivas ou focar na inovação em química que alcança concorrentes no exterior e economiza nas contas médicas. Relatório publicado no Annals of Global Health estima que em 2015 os custos relacionados à saúde da produção de plástico, o uso mais comum da fabricação de produtos químicos industriais hoje, excederam US $ 250 bilhões globalmente, somente nos EUA, os custos anuais de saúde de doenças e incapacidades causadas por 4 produtos químicos industriais, PBDE, BPA, DEHP e PFAS, se aproximam de US$ 1 trilhão considerando que há mais de 86 mil produtos químicos industriais em circulação parecendo provável que os custos reais de saúde sejam muito maiores. Estudo de 2015 publicado pelo Lancet Group estimou que o custo de doenças mediadas pela exposição a produtos químicos desreguladores endócrinos nos EUA poderia exceder US$ 340 bilhões anualmente, sendo que um estudo de coorte de 2022, populacional, usou dados históricos para vincular a exposição a ftalatos nos EUA a 100 mil mortes prematuras e US$ 40 bilhões resultantes em custos sociais anuais. Estudo de 2022 da Universidade de Lund, na Suécia, descobriu que os petroquímicos respondem ​​por um décimo das emissões globais de gases efeito estufa quando os pesquisadores avaliam seu ciclo de vida completo, que pode incluir tudo, de um poço de fracking na Pensilvânia a uma jangada de isopor se desintegrando no meio do Oceano Pacífico, com a Fundação Minderoo publicando análise que mostra emissões de gases efeito estufa do berço ao túmulo apenas de plásticos, um subconjunto do uso total de petroquímicos, aproximadamente equivalente às emissões anuais da Rússia. A indústria de plásticos e petroquímicos sabe dos efeitos nocivos à saúde de seus produtos há décadas, em 1970, pesquisas mostraram que compostos da família química PFAS forever bioacumulam no corpo humano e representam riscos  à saúde, no entanto, em vez de remover os produtos químicos do uso e desenvolver alternativas seguras, a indústria dobrou a defesa de seus produtos, resultando hoje na contaminação universal por PFAS que pode ser encontrada em todos os americanos.


terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Nexo de Causalidade

Júri da Califórnia condena indenizar em US$ 40 milhões duas pacientes decorrente nexo de causalidade entre desenvolvimento de câncer de ovário e uso diário do talco para bebês da Johnson & Johnson por 40 anos, retirado em 2020 do mercado norte-americano e substituído por fórmula à base de amido de milho. Concluiu que a Johnson  conhecia riscos associados ao produto desde os anos 1960 omitindo informações aos consumidores, com as pacientes residentes na Califórnia passando por cirurgias e sessões de quimioterapia, no entanto, mais de 67 mil ações seguem tramitando nos EUA a maioria associada a câncer de ovário, além de processos por mesotelioma. Os autos mostraram que a companhia sabia dos riscos desde os anos 1960 omitindo informações  não alertando consumidores, com Monica Kent diagnosticada em 2014 e Deborah Schultz em 2018, ambas, residentes no estado, relatando uso diário do talco pós banho por 40 anos, enquanto o advogado Andy Birchfield afirmou ao júri que a Johnson sabia da ligação entre uso do talco e câncer, declarando, "sabiam e estavam fazendo tudo que podiam para esconder, enterrar a verdade sobre os perigos". A defesa da empresa alegou falta de evidências científicas destacando que nenhuma autoridade de saúde dos EUA reconhece o talco como causador de câncer, no entanto, mais de 67 mil processos foram abertos contra a Companhia por consumidores que afirmaram ter desenvolvido câncer pós uso prolongado do talco, enquanto a Empresa alega que os produtos são seguros não contêm amianto e não provocam câncer e o talco foi retirado do mercado em 2020 substituído por fórmula com amido de milho.

O Júri do Tribunal Superior de Los Angeles concedeu US$ 18 milhões a Monica Kent e US$ 22 milhões a Deborah Schultz e seu marido, pós concluir que a companhia sabia há anos que seus produtos à base de talco eram perigosos e não alertando consumidores, com Erik Haas, vice-presidente mundial de litígios da Johnson & Johnson dizendo que a empresa planeja "recorrer da decisão e espera prevalecer como normalmente ocorre  com veredictos adversos atípicos". Nas alegações finais em Courtroom View Network, Andy Birchfield, advogado das demandantes, disse ao júri que a companhia sabia desde a década de 1960 que o produto poderia causar câncer, Allison Brown, advogada da Johnson, afirmou que as únicas pessoas que informaram a Kent e Schultz que seus cânceres foram causados ​​pelo talco foram seus advogados, já que o suposto nexo de causalidade não é respaldado por autoridade de saúde importante dos EUA e não há estudo que mostre que o talco possa migrar da parte externa do corpo aos órgãos reprodutivos, dizendo ao Juri que,"eles não têm provas neste caso e esperam que vocês não se importem". Documentos judiciais indicam a Johnson enfrentando processos de mais de 67 mil pessoas sob alegação de terem sido diagnosticadas com câncer pós  uso do talco à bebês e outros produtos à base de talco. A companhia tentou encerrar os litígios através de pedidos de falência, estratégia rejeitada três vezes por tribunais federais, a última, em abril, com negativa judicial determinado a retomada dos processos enquanto o caso das californianas foi o primeiro a ser julgado desde a última tentativa de falência. Diante essas tentativas, a empresa já havia sido condenada em outros julgamentos com indenizações bilionárias enqaunto a maioria dos processos se relaciona a câncer de ovário, havendo ações envolvendo mesotelioma, forma rara de câncer em andamento nos tribunais estaduais dos EUA. Vale a nota que a empresa venceu alguns processos e teve outras indenizações reduzidas em apelação, enquanto a maioria dos enfrentamentos judiciais envolve alegações de câncer de ovário e já fez acordos em alguns desses casos, não firmou um acordo nacional, portanto, muitos processos relacionados ao mesotelioma foram a julgamento em tribunais estaduais nos últimos meses.

Moral da Nota: em 2018, júri do Missouri ordenou que a Johnson & Johnson pagasse valor recorde de US$ 4,69 bilhões a 22 mulheres que alegaram que os produtos da empresa à base de talco, incluindo o talco para bebês, continham amianto e causaram desenvolvimento de câncer de ovário, naquele, considerado o maior veredicto que a Johnson enfrentou por alegações que seus produtos à base de talco causam câncer, no entanto, a empresa enfrenta 9 mil processos relacionados ao talco. A companhia nega que os produtos de talco causem câncer e contenham amianto, afirmando que décadas de estudos comprovam segurança do talco e que reverteu veredictos anteriores sobre o mesmo produto com base em questões técnico-legais. A sentença do Tribunal da Cidade de St. Louis composta por US$ 550 milhões em indenizações compensatórias e US$ 4,14 bilhões em indenizações punitivas, conforme transmissão online do julgamento feita pela Courtroom View Network, a decisão do júri foi tomada após depoimentos de quase uma dúzia de especialistas de ambos os lados. Por fim, a empresa reverteu veredictos relacionados ao talco no passado com tribunais de apelação apontando à decisão de 2017 da Suprema Corte dos EUA limitando locais onde ações judiciais por danos pessoais podem ser ajuizadas, quer dizer, das 22 mulheres no julgamento de St. Louis, 17 eram de fora do Missouri, estado considerado favorável aos demandantes e a prática de reunir demandantes em tais jurisdições é criticada como "escolha de foro" pelos réus, contestada em apelação. Para concluir, a maioria dos processos judiciais enfrentados pela Johnson envolve alegações que o talco causou câncer de ovário, no entanto, número menor de casos alega que o talco contaminado causou mesotelioma, câncer de tecido intimamente ligado à exposição ao amianto. A FDA, Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA, encomendou estudo de amostras de talco coletadas entre 2009 e 2010, incluindo o Talco para Bebês da Johnson, afirmando que não foi encontrado amianto em nenhuma das amostras de talco, no entanto, argumentos no tribunal indicaram que usaram métodos falhos que não permitiram detecção adequada de fibras de amianto.