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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O Canadá

Incêndios florestais no Canadá transformaram-se em catástrofe ambiental com chamas consumindo extensões de floresta enquanto liberam bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, tornando-se a 2ª pior temporada de incêndios florestais da história canadense superada apenas pelos de 2023, em junho, haviam devorado 3,7 milhões de hectares, quase 5 vezes os 800 mil hectares típicos queimados no mesmo período em anos anteriores, em julho, devastaram 5.863.583 hectares, área equivalente à Croácia, ou, mais que o dobro da média de 10 anos de 2.488.772 hectares afetados no período. Relatório Nacional de Situação de Incêndios Florestais de 23 de julho, emitido pelo Ministério dos Recursos Naturais do Canadá, observou que a fumaça "dos incêndios florestais pode ofuscar o sol e criar nasceres e pores coloridos, pode causar problemas de qualidade do ar em grupos sensíveis, sendo que o Relatório Stanford entrevistou médicos que tinham visão mais séria da situação, um deles observou que "os dados indicam que não existe nível seguro de exposição à fumaça de incêndios florestais, quanto maior a exposição, pior a gama de resultados à saúde, outro especialista acrescenta que "a fumaça dos incêndios florestais é 10 vezes mais tóxica que a poluição atmosférica normal  da queima de combustíveis fósseis. Artigo da CBC de 20 de julho nos informa que "o Canadá abriga um quarto das turfeiras do mundo, ou, áreas úmidas pantanosas rico depósito de carbono de milhões de anos de decomposição da vida vegetal e animal, também estão queimando, mas, a escala das emissões dos incêndios nas turfeiras não é contabilizada nas estatísticas governamentais, grande parte da área é vulnerável à ameaça de incêndio, quer dizer, está na zona de floresta boreal onde árvores como o abeto negro, propensas a incêndios, são comuns e com depósitos de carbono no solo podem tornar as turfeiras inflamáveis, especialmente nos períodos de seca. Vale dizer, que incêndios de turfa ardem lentamente por períodos mais longos em vez de se alastrarem em uma única chama gigante, alguns podem durar meses ou anos, conforme pesquisadores, liberando carbono na atmosfera, assim, as turfeiras são parcialmente transformadas de sumidouro vital de carbono à fonte mortal de carbono, isto decorre porque as mudanças climáticas tornaram o clima propício à incêndios mais frequentes e severos agravando as próprias mudanças climáticas. Pesquisadores da Universidade McGill em Montreal descobriram que poços de petróleo e gás inativos abandonados no Canadá emitem quase 7 vezes mais metano que as estimativas oficiais, significando que emissões de metano desses poços são  230 quilotoneladas/ano em oposição à estimativa do governo de 34 quilotoneladas, com o governo se preparando para aumentar a extração e exportação de petróleo e gás, com o World Resources Institute calculando que a temporada de incêndios florestais de 2023 no Canadá "produziu 3 bilhões de toneladas de CO2, ou, 4 vezes as emissões de carbono da aviação global em 2022", concluiu ainda que, ocorreu em contexto que, em escala global, "incêndios florestais queimam o dobro da cobertura florestal que há 2 décadas".

Fumaça de incêndios florestais é mistura que vincula efeitos na saúde composta por poluentes gasosos como o monóxido de carbono, poluentes atmosféricos perigosos, HAPs, ou, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, vapor d'água e poluição por partículas que representam o componente principal da fumaça dos incêndios florestais e a principal ameaça à saúde pública, também chamada de partículas, material particulado ou MP, termo geral à mistura de gotículas sólidas e líquidas suspensas no ar. A fonte de poluição mais comum por partículas são as atividades relacionadas à combustão como incêndios florestais devido à diversificação em que se apresentam em tamanhos e formas diversas, algumas tão pequenas só visíveis através de microscópio eletrônico podendo ser compostas por diferentes componentes incluindo ácidos, por exemplo, ácido sulfúrico, compostos inorgânicos, por exemplo, sulfato de amônio, nitrato de amônio e cloreto de sódio, produtos químicos orgânicos, fuligem, metais, partículas de solo ou poeira e materiais biológicos, por exemplo, pólen e esporos de mofo. No incêndio florestal ou atividades relacionadas à combustão as concentrações de partículas aumentam no ar a ponto de se tornarem visíveis a olho nu em que o material particulado fino inalável, PM2,5, é o poluente atmosférico de maior preocupação à saúde oriundo de incêndios florestais, podendo atingir pulmões e corrente sanguínea, sendo os mais susceptíveis os portadores de doenças cardiovasculares ou respiratórias, idosos, crianças menores de 18 anos, gestantes, trabalhadores ao ar livre e pessoas de menor status econômico. As partículas podem ser agrupadas em grossas e finas com as primeiras conhecidas como PM10-2,5, com diâmetros maiores que 2,5 µm e menores ou iguais a 10 µm, geradas por operações mecânicas em construção e agricultura, enquanto pequena porcentagem está presente na fumaça de incêndios florestais, as partículas finas conhecidas como PM2,5, com 2,5 µm de diâmetro ou menores representam o principal poluente emitido pela fumaça de incêndios florestais, compreendendo 90% da massa total de partículas, este grupo também inclui partículas ultrafinas classificadas como tendo diâmetros menores que 0,1 µm. O foco na poluição ambiental é, em parte, reflexo da duração relativamente curta dos eventos de incêndios florestais, ou seja, dias a semanas e do número pequeno de eventos de saúde, por exemplo, internações hospitalares diárias ao longo de semanas em evento de incêndio florestal, comparados com anos de dados, por exemplo, internações hospitalares diárias ao longo de vários anos disponíveis para examinar a relação entre poluição do ar ambiente e saúde, resultando em informações descritas sobre efeitos à saúde da exposição à fumaça de incêndios florestais enraizadas na evidência científica que demonstra relação entre exposição à poluição por partículas finas e efeitos à saúde. Evidências epidemiológicas com foco na poluição por partículas, especificamente fumaça de incêndios florestais, apoiam a conclusão ao demonstrar efeitos semelhantes à saúde à partículas finas atribuídas à fumaça de incêndios florestais, dias com fumaça, comparados com partículas finas geradas por outras fontes, dias sem fumaça.

Moral da Nota: estudo demonstra que o clima extremo no verão custou à Europa 43 bilhões de euros em que fenômenos meteorológicos extremos e aquecimento global continuarão tornando as catástrofes cada vez mais intensas e frequentes, conclusão, de estudo divulgado pela economista e pesquisadora Sehrish Usman, da Universidade de Mannheim, Alemanha.Cerca de 100 ondas de calor, quase 200 secas e mais de 50 inundações atingiram regiões da Europa, segundo economistas, somando-se a esses eventos extremos incêndios florestais e danos causados pelo vento ou granizo, enquanto o custo dessas catástrofes supera projeções feitas antes, conforme a pesquisadora, declarando que “estima-se que, entre junho e agosto de 2025, eventos climáticos extremos nessas regiões custarão 43 bilhões de euros à economia e 126 bilhões de euros até 2029”. A pesquisa não contabiliza apenas perdas diretas causadas pelas tragédias como destruição de estrada ou de colheita, levaram em conta impacto de longo prazo na economia, com Sehrish Usman esclarecendo que, “uma onda de calor, por exemplo, reduz o tempo de trabalho e a produtividade dos trabalhadores, afeta a saúde, investimentos nessas regiões, o mercado de trabalho, a demografia e até o setor do turismo” e levando esses fatores em consideração o estudo estima que, até 2029, os  custos macroeconômicos causados pelas catástrofes do verão de 2025 podem chegar a 126 bilhões euros. A escassez ou destruição de produtos devido à seca pode levar ao aumento da inflação a médio e longo prazo, sendo que Espanha, França e Itália aparecem como países mais afetados e enfrentam perdas superiores a 10 bilhões euros em 2025 que pode ultrapassar 30 bilhões euros a médio prazo, enquanto, segundo o estudo,  países da Europa Central e Norte sofreram danos menores, mas as inundações crescem nesses locais o que deve aumentar o custo dos distúrbios meteorológicos, com os autores destacando que os números provavelmente estão abaixo da realidade por não levarem em conta efeitos cumulativos como ondas de calor e secas que ocorrem simultaneamente e repercussões das mudanças climáticas como incêndios. O estudo conclui que fenômenos meteorológicos extremos deixaram de ser ameaça distante e já influenciam o desenvolvimento econômico da Europa, com pesquisadores fazendo apelo urgente à redução das emissões de gases efeito estufa.  

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Clima e Saúde

Artigo no JAMA publicado on-line descreve o excesso de mortes atribuíveis aos incêndios florestais de Los Angeles, já que, em janeiro de 2025, 2 grandes incêndios atingiram o Condado de Los Angeles, Califórnia, com as autoridades relatando 30 mortes diretas, mas, impactos adicionais à saúde são prováveis, em que Modelos de excesso de mortalidade foram aplicados para quantificar impactos de emergências relacionadas ao clima, como incêndios florestais, enquanto o excesso de mortes por inclui as diretamente relacionadas ao incêndio, com as parcialmente atribuíveis, por exemplo, problemas pulmonares ou cardíacos exacerbados por fumaça ou estresse e mortes indiretas, por exemplo, interrupções nos sistemas de saúde, impactos na saúde mental. A análise transversal foi determinada como isenta de revisão e requisitos de consentimento informado pelo Conselho de Revisão Institucional da Universidade de Boston, não envolvendo participantes humanos, considerando que, o estudo aderiu à diretriz de relatórios Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology, STROBE, em que foram adotados delineamento de temporais interrompidas utilizando modelo aditivo  para estimar mortes esperadas ajustados a modelo em dados de 2018, 2019 e 2024, excluindo 2020 a 2023 devido a pandemia; Os resultados mostram que no Condado de Los Angeles as mortes semanais excederam as mortes esperadas no período de 5 de janeiro a 1º de fevereiro de 2025 e, no total, foram observadas 6.371 mortes comparados com 5.931 esperadas indicando que 6,9%  das observadas ou 440 no Condado de Los Angeles foram mortes excedentes. Embora houvessem 30 mortes diretas nos incêndios florestais de Los Angeles o estudo estima que 440 mortes de 5 de janeiro a 1º de fevereiro de 2025 foram atribuíveis aos incêndios florestais, refletindo fatores incluindo maior exposição à má qualidade do ar, atrasos e interrupções na assistência médica com os resultados de análise de sensibilidade incluindo dados até 1º de março de 2025 compatíveis a efeito de seleção, provavelmente afetados por relatórios incompletos de mortes. As descobertas ressaltam necessidade de complementar estimativas de mortes diretas com métodos alternativos quantificando carga adicional de mortalidade de incêndios florestais e de emergências relacionadas ao clima de forma mais ampla, destacam necessidade de melhor vigilância da mortalidade durante e após emergências de incêndios florestais, no entanto, o estudo tem limitações, com dados provisórios e podem ser revisados para incluir mortes adicionais, que  em excesso podem ter ocorrido além do período do estudo atual, embora testes de robustez tenham sido realizados, é possível que as estimativas tenham sido afetadas por fatores de confusão residuais ou não medidos, com pesquisas futuras devendo investigar impactos de longo prazo dos incêndios florestais de Los Angeles à medida que dados adicionais são disponibilizados e avaliar causas específicas de morte que contribuem ao excesso de mortalidade relacionada a incêndios florestais.

Fato relevante foi que em 8 de agosto de 2023, incêndios florestais se espalharam pela ilha de Maui, no Havaí, e queimaram por um mês, destruindo mais de 2.200 estruturas, provocando migração e causando mais de 100 mortes, com relatórios discutindo potenciais consequências à saúde comportamental e um estudo documentando aumentos nas chamadas ao 988 Suicide and Crisis Lifeline no Havaí pós os incêndios, no entanto, faltam evidências empíricas sobre os efeitos dos incêndios florestais de Maui na saúde comportamental. Estudo avalia se os incêndios florestais estavam associados ao aumento de suicídios e overdoses em Maui e ilhas vizinhas ao utilizar dados de Estatísticas Vitais de Uso Restrito do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde dos EUA cobrindo mortes de 2014 a 2023, atribuídas aos condados do Havaí com base nos códigos dos Padrões Federais de Processamento de Informações estaduais e municipais onde ocorreu, daí, utilizando dados anuais do Censo dos EUA em nível de condado, calcula-se as taxas mensais de mortalidade por 100 mil habitantes por suicídio e overdose em Maui e nos outros 4 condados do Havaí, Havaí, Kalawao, Honolulu e Kaua'i. Para todos os condados do Havaí combinados, 47,6% das mortes, 2.124 de 4.461, foram suicídios e 52,4%, 2.337 de 4.461, foram overdoses e, durante o período de 120 meses, a maior taxa combinada mensal de mortes por suicídio e overdose de Maui, 13 mortes, 7,89 por 100 mil habitantes e a taxa de mortes por suicídio, 4,86 por 100 mil habitantes ocorreram em agosto de 2023, com taxa combinada de mortes por suicídio e overdose para condados fora de Maui no Havaí mais alta em agosto de 2023, 59 mortes, 4,62 por 100 mil habitantes, nenhum aumento foi sustentado no período observado de 4 meses após agosto de 2023 sendo que em 2023, a população de Maui era de 164.754, representando 11,4% da população do estado. O estudo contribui para literatura crescente sobre as consequências dos incêndios florestais à saúde, uma ameaça à saúde pública global, cujos resultados mostram que incêndios florestais de Maui em 2023 tiveram efeitos imediatos nas mortes por suicídio e overdose em Maui e nas ilhas havaianas, descoberta, sugerindo que a exposição direta aos incêndios florestais pode ter aumentado risco de suicídio e morte por overdose entre residentes de Maui que migraram às ilhas vizinhas durante ou após os incêndios. A exposição indireta aos incêndios florestais, por exemplo, preocupações com entes queridos, pode ter aumentado o risco de morte por essas causas nas ilhas vizinhas com resultados destacando importância de implementar intervenções de prevenção de suicídio e overdose nas fases de resposta e recuperação de incêndios florestais e garantir que intervenções alcancem comunidades além das áreas diretamente impactadas. Limitações do estudo incluem falta de informações sobre a data exata das mortes com algumas mortes observadas em agosto de 2023 presumivelmente ocorrendo antes do início do incêndio florestal em 8 de agosto, ao passo que, a extensão da migração para fora de Maui pós incêndios é desconhecida o que afeta precisão dos denominadores usados para calcular as taxas, além disso, 4 meses de dados de mortes pós-incêndio florestal estavam disponíveis.

Moral da Nota: incêndios florestais são comunicados ao público como "eventos", com começo e fim, enquanto os grandes são memorizados pelo nome e associados a estatísticas, número de acres queimados, número de casas destruídas, valor da propriedade danificada e, com muita frequência, número de vidas perdidas, são comuns nos EUA e estão se tornando mais frequentes, severos e caros, em que custos excessivos com assistência médica devido ao calor são estimados em US$ 1 bilhão anuais e, de 1990 a 2024, uma média de 9 eventos climáticos extremos com perdas superiores a US$ 1 bilhão cada ocorreram por ano, em 2024, houveram 27 eventos desse tipo. A Rede JAMA inclui 3 relatórios sobre o impacto na saúde de 2 incêndios florestais recentes e altamente destrutivos, agosto de 2023 em Maui, Havaí, e janeiro de 2025 no Condado de Los Angeles, Califórnia, cujos estudos contribuem à crescente corpo de literatura que mostra modos pelas quais a saúde é afetada por eventos climáticos extremos e destacam como respostas atuais às ameaças à saúde relativas ao clima não conseguem capturar efeitos na saúde a médio e longo prazo. Chamas duraram mais de um mês na ilha de Maui, na cidade de Lahaina, mais de 100 pessoas morreram, colocando-o entre os incêndios florestais mais mortais dos EUA nos últimos 100 anos, com estudo transversal incluindo 1.174 adultos 6 a 14 meses após o evento, 1 em cada 5 participantes apresentou evidências de função pulmonar reduzida e metade apresentou resultado positivo à sintomas depressivos, sendo que uma maior percepção individual de apoio social foi associada a menos dias em que os participantes se sentiram afetados por problemas de saúde mas não afetou os resultados de comprometimento da função pulmonar, sendo que em agosto de 2023,  encontraram aumento geral de 46% nas taxas de mortalidade por suicídio e overdose nos 5 condados e aumento de 97% apenas em Maui. Em janeiro de 2025, condições de seca e ventos com força de furacão de Santa Ana acarretaram incêndios florestais em Los Angeles por mais de 3 semanas, 3 meses depois, a contagem de mortes era 30,6 e ajustando o modelo em dados de 2018, 2019 e 2024, estimaram que 5.931 mortes seriam esperadas nas semanas do incêndio comparadas as 6.371 mortes observadas, em suma, 6,9% do total, totalizando 440 mortes foram excedentes e, portanto, concluíram eles, relacionadas ao incêndio. Os estudos fornecem exemplo de como as medições de saúde comumente relatadas de uma resposta de emergência, como fatalidades diretas, não capturam o impacto total dos incêndios florestais, sendo que estudos de outros eventos sensíveis ao clima, como furacões, inundações, eventos de calor excessivo e má qualidade do ar, demonstram impactos difusos e de longo prazo, diretos e indiretos, semelhantes à saúde, não capturados pela vigilância de resposta de emergência, incluindo exacerbação de condições subjacentes, doenças da água e alimentos, condições de saúde mental como depressão, transtorno de estresse pós-traumático, suicídio e respiratórias, como impactos indiretos à saúde decorrentes interrupção de serviços sociais e médicos, perda de medicamentos e deslocamento comunitário. Diante eventos climáticos extremos é necessária resposta de emergência imediata e focada, apropriada à tarefa, mas, à medida que nos esforçamos para desenvolver sistemas que abordem amplitude dos efeitos na saúde, a definição do problema deve ser reavaliada.