Estudo da Mayo Clinic publicado na Alzheimer's & Dementia, apoiado por financiamento do Instituto Nacional sobre Envelhecimento e pelo New Faculty Startup Fund da Universidade Nacional de Seul, investigou episódios de lucidez em pessoas que vivem com estágios posteriores de demência, clarificando informações sobre como tais episódios ocorrem com resultados mostrando que 75% dos que tiveram episódios de lucidez foram relatadas como portadoras de Alzheimer em oposição a outras formas de demência. No conceito de episódios de lucidez como comunicação inesperada, espontânea, significativa e relevante de pessoa que se presume ter perdido de modo permanente a capacidade de interagir coerentemente, tanto de forma verbal quanto através de gestos e ações em que cuidadores familiares foram entrevistados e questionados sobre o fato de assisterem os episódios de lucidez. O estudo visa determinar se havia padrões ou tipos de episódios de lucidez que poderiam ser utilizados para entender o motivo ou quando ocorrem ao examinar episódios lúcidos entre pessoas que vivem com Alzheimer em estágio avançado e demências relacionadas, PLWD e, em seguida, desenvolveu tipologia para caracterizá-los. Cuidadores familiares forneceram informações sobre episódios vistos, incluindo proximidade da morte, estado cognitivo, qualidade da comunicação, circunstâncias anteriores e duração dos episódios lúcidos em até 2 episódios sendo que a análise de classes latentes foi utilizada para classificar e caracterizar grupos distintos de episódios lúcidos.
Foram identificados 4 tipos de episódios lúcidos sendo que o tipo mais comum ocorreu em visitas familiares que viveram mais de 6 meses após o episódio enquanto o tipo menos comum coincidiu com visitas familiares sendo que os resultados sugerem que existem vários tipos de episódios lúcidos e nem todos sinalizam morte iminente e, alguns, mas não todos, são precipitados por estímulos externos. Foi relatado que pessoas com doença de Alzheimer em estágio avançado e demências relacionadas, ADRD, por meio de anedotas e estudos de caso apresentam episódios inesperados de comunicação ou comportamento espontâneo, significativo e relevante, sendo que tais episódios lúcidos, LEs, chamados de lucidez paradoxal devido sua inconsistência com modelos atuais e falta de explicação científica são caracterizados por períodos de clareza mental em pacientes que perderam capacidade cognitiva coerente. Até à data, há ausência de concordância sobre definições precisas do que é e o que não é Episódio Lúcido, LE, sendo que sua caracterização ajudaria especificar definições, distinguindo critérios de inclusão e exclusão, o que, por sua vez, identifica lacunas nos modelos dominantes que não explicam reversões temporárias da capacidade cognitiva. Conceito adicional pode ajudar educar prestadores de cuidados e cuidadores familiares sobre possível ocorrência e apoiar cuidadores familiares em que foram propostas questões conceituais para harmonizar e enquadrar caracterizações dos LEs e orientar investigações em direção a definição robusta e precisa, buscando enquadrar áreas de investigação sem suposições prematuras sobre critérios de definição. Embora LEs no final da vida, muitas vezes chamados de lucidez terminal, estejam bem documentados em estudos de quase morte entre os com e sem condições neurodegenerativas, é possível que os LEs ocorram em momentos diferentes da morte iminente.
Moral da Nota: o estudo buscou entrevistar cuidadores familiares para obter informações sobre dimensões dos LEs e, em seguida, avaliar dados para desenvolver tipologia de LEs sendo que na abordagem de tipologia, por exemplo, análise de classe latente, agrupa casos ou participantes em tipos com base nas características comuns, identificando “combinações” de características múltiplas observadas empiricamente numa amostra cujo objetivo foi determinar se existem padrões ou tipos distintos de LEs que, por sua vez, poderiam ser usados para refinar conceitos e definições de LEs. O desenvolvimento de tipologia é primeiro passo para caracterizar LEs porque permite natureza heterogênea e episódica que não pode ser capturada por dimensões separadas ou isoladamente, por exemplo, duração, tipo de comportamento e contexto permitindo heterogeneidade de componentes previamente relatados, por exemplo, duração, eventos antecedentes e qualidade da comunicação, bem como características dos que vivenciam o episódio, por exemplo, estágio de demência ou proximidade da morte e dos que testemunham o episódio, por exemplo, contextos de cuidado e reações do cuidador. A criação de uma tipologia fornece ponto de partida no desenvolvimento de explicação teórica aos LEs serem testados em pesquisas futuras com 4 tipologias baseadas em 5 dimensões de LEs ou Episódios tipo 1, o mais comum de LE na amostra, coincidindo com visitas de familiares mais frequentemente referidas por crianças que não co-residiram com os pacientes e tiveram a menor frequência de contacto. Os LEs tipo 2 eram de curta duração e não incluíam antecedentes únicos ou circunstâncias especiais, ao contrário da literatura que relata que os LEs eram tipicamente estimulados ou desencadeados foi relatado que esse tipo de LE ocorre aleatoriamente sem qualquer estímulo observável ou externo, sendo possível que cônjuges que vivem no mesmo agregado familiar possam testemunhar flutuações menores na clareza mental ou na comunicação coerente que não seriam percebidas, ou sem contexto, entendido como retorno temporário da lucidez. LEs do tipo 3 ocorreram entre pessoas com dificuldades cognitivas extremas e foram, em parte, precedidas por música significativa, reminiscências, rituais valorizados ou mudanças no ambiente alinhado com pesquisas que destacam atividades significativas, por exemplo, atividades que são significativas ou refletem interesses, rotinas, hábitos e papéis passados e os benefícios cognitivos, emocionais e funcionais do envolvimento em atividades significativas sendo que Intervenções que utilizam música, por exemplo, mostram reduções na agitação entre pessoas com deficiência, anedotas e estudos de caso na literatura e na mídia popular incluindo antecedentes emocionalmente carregados para LEs. O Tipo 4 foi relativamente consistente com outras descrições de “lucidez paradoxal terminal” na literatura com indicador importante sendo que a pessoa com deficiência morre após o episódio, mas apenas 12% de todos os episódios na amostra foram categorizados como Tipo 4 sendo que a visitação familiar foi indicador, mas dado o desenho transversal do estudo, não está claro se a presença familiar perto da morte atua como catalisador aos LEs ou se a morte iminente traz consciência da família à flutuações na cognição. Por fim, vale dizer que o inquérito não foi concebido para estimar prevalência de LEs, mas para examinar tipos entre aqueles que relataram tê-los testemunhado na tentativa de definir para compreender e contextualizar o fenômeno LE, definição que estivesse em nível de leitura razoável. Pesquisas adicionais são necessárias à confirmar esses tipos de LEs e determinar se são válidos em amostra diversificada de pacientes e seus cuidadores considerando que os resultados revelam que, das pessoas que tiveram episódios de lucidez, 61% eram mulheres, 31% residiam no mesmo domicílio do cuidador que respondeu ao questionário.