Estudo publicado no JAMA Psychiatry avalia que pessoas que vivem em situação de rua, em sua maioria, tem distúrbios de saúde mental conforme revisão sistemática e meta-análise de estudos que incluíram quase 50 mil participantes, sendo que a prevalência de perturbações de saúde mental entre pessoas em situação de sem-abrigo foi de 67% e a prevalência ao longo da vida de 77%. A autora principal do estudo, Rebecca Barry, PhD, pós-doutoranda na Universidade de Calgary, Canadá, explicou no Medscape Medical News que “a relação é provavelmente bidirecional, onde viver sem-abrigo pode exacerbar sintomas de saúde mental ou onde ter distúrbio de saúde mental pode aumentar o risco do indivíduo passar por sem-abrigo”, e mais, “há fatores de stress prováveis que aumentam tanto o risco de sem-abrigo como o risco de desenvolver perturbações de saúde mental sendo que o estudo examina a prevalência, mas não, relações causais”. Para determinar a prevalência ao longo da vida de distúrbios de saúde mental na população sem-abrigo, investigadores analisaram 85 estudos em que examinam a questão em participantes com idade de 18 anos, incluindo 48.414 participantes, 11.154, 23%, mulheres e 37.260, 77%, homens. A prevalência de perturbações mentais foi mais elevada em homens que viviam em situação de sem-abrigo, 86%, do que nas mulheres, 69%, sendo que o transtorno mental mais comum foi o transtorno por uso de substâncias, 44%, transtorno de personalidade anti-social, 26%, depressão maior, 19%, transtorno bipolar, 8% e esquizofrenia, 7%, superior à observada na população em geral, 13%-15% e 12%-47%, respectivamente, cujos resultados assemelham-se aos de uma revisão anterior estimando que 76% das pessoas em situação de sem-abrigo que vivem em países de rendimento elevado têm perturbações de saúde mental.
O professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina Cumming da Universidade de Calgary, esclarece que “o problema é preocupante e não está melhorando, com o vício e problemas de saúde mental tornando-se mais comuns entre pessoas sem-teto”, sendo que o resultado mostra necessidade de moradia acessível e apoio à saúde mental, “um problema de habitação e de saúde e de recursos adequados para encontrar formas de colaboração entre esses 2 sistemas com preocupações de segurança às pessoas que vivem em situação de sem-abrigo além de conhecer onde estão estabelecendo relacionamento de confiança para colocá-las no caminho da recuperação." Comentando o estudo, o professor de medicina na Universidade de Toronto, disse que "houve estudos anteriores desse tipo, mas é bom atualizar", sendo que as descobertas devem entendidas no contexto adequado, por um lado, agrupar transtornos de saúde mental e fornecer valor único de prevalência pode ser enganoso sendo que "estão incluindo nessa categoria um grupo diversificado de condições em que transtorno por uso de substâncias, transtorno de personalidade, esquizofrenia e depressão estão todos agrupados, ao passo que a prevalência de 67% parece alta, mas é combinação de condições diferentes. Alerta ao fato que leitores podem interpretar as descobertas como significando que os problemas mentais são a razão pela qual as pessoas estão desabrigadas, "interpretação incorreta porque o que este estudo mostra é que as pessoas com distúrbios de saúde mental têm risco maior de se tornarem sem-abrigo, não significando que isso tenha causado a situação de sem-abrigo, sendo que o que realmente causa a situação de sem-abrigo é a falta de habitação a preços acessíveis" e “sabemos que as pessoas com problemas de saúde mental e transtornos por uso de substâncias estarão entre os primeiros a perder suas moradias". Vale dizer que “esquizofrenia é observada nas populações a taxa de 1%, no entanto, pessoas que parecem ter esquizofrenia vagam pelas ruas e não ver alguém que pareça ser um sem-teto e ter esquizofrenia" "não é porque há menos pessoas com esquizofrenia nessas cidades ou países e, sim, porque as pessoas com esquizofrenia são tratadas de modo diferente ao passo que a taxa de sem-abrigo é determinada não por quantas pessoas têm essa condição, por exemplo, esquizofrenia, mas pela forma como as tratamos" e como configuramos a sociedade para apoiar ou não pessoas com deficiência."
Moral da Nota: a organização sem fins lucrativos FAIR Health nos informa que a percentagem de pessoas diagnosticadas com problemas de saúde mental nos EUA aumentou 40% entre 2019 e 2023, sendo que a análise baseia-se em dados de mais de 46 bilhões de registros de pedidos de assistência médica privada. O relatório corrobora que “a nível nacional, a percentagem de pacientes com diagnósticos de distúrbios na saúde mental aumentou 39,8%, de 13,5% dos pacientes que receberam serviços médicos em 2019 à 18,9% em 2023”, embora 5,6% dos pacientes sem diagnóstico de dano à saúde mental tivessem transtorno por uso de substâncias, 15,7% dos pacientes com diagnóstico de distúrbio na saúde mental também tinham transtorno por uso de substâncias. O relatório avalia que diagnósticos de problemas mais comuns de saúde mental incluem transtorno de ansiedade generalizada, transtorno depressivo maior, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, TDAH, transtorno de adaptação e transtorno bipolar, sendo que TDAH passou do 4º ao 3º lugar entre diagnósticos mais comuns de 2019 a 2023 e que a percentagem de reclamações associadas a diagnósticos de saúde mental aumentou em todos os estados com maiores aumentos na Geórgia, Connecticut, Havai, Montana e Nevada.