segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Saúde mental

Pesquisas do Canadá, Reino Unido e países de alta renda mostram que os requerentes de asilo experimentam taxas mais altas de problemas graves de saúde mental, enquanto aguardam processamento dos  pedidos  de  status de imigração permanente.  Pesquisadores descobriram que deslocados à força podem ser “desproporcionalmente afetados” pelo risco de suicídio consequente  a períodos prolongados de incerteza sobre o futuro, separação familiar e pobreza. A Dra. Michaela Beder, psiquiatra de Toronto, especialista em imigração e doenças mentais graves, explica necessidade de  “repensar o que estamos fazendo no sistema que leva as pessoas a angústia imensa  e que pensariam no suicídio como única opção”, continua explicando que,  “o processo de determinação de refugiados é extremamente estressante e o preço que isso afeta a saúde mental é significativo”. Outro estudo publicado em 2016 por pesquisadores canadenses, descobriu que requerentes de asilo eram mais propensos a sofrer depressão maior e menor após o parto. Ao analisaram amostra de 1.125 mulheres que vivem no Canadá em diferentes estágios do processo de imigração, requerentes de asilo sem status, refugiados com status, imigrantes econômicos e mulheres nascidas no Canadá e comparam taxas de doença mental entre grupos de pessoas com diferentes status de imigração estabelece que certos grupos estão em maior risco de doença mental que outros. Descobriu que requerentes de asilo eram três vezes mais propensos apresentar sintomas de depressão 16 semanas pós-parto que mulheres nascidas no Canadá e, que os requerentes de asilo eram seis vezes e meia mais propensos relatar atos de automutilação que mulheres nascidas no Canadá 16 semanas pós-parto.

Nesta linha ao deslocarmos à Ucrânia, nos oito meses de guerra, a OMS confirmou quase 600 ataques a instalações de saúde com hospitais e infraestrutura crítica danificadas ou destruídas. Alerta que quase 10 milhões de pessoas estão potencialmente em risco de condições como estresse agudo, ansiedade, depressão,  transtorno de estresse pós-traumático, TEPT, abuso de opióides e similares.  A Ucrânia intensificou investimento e prestação de serviços de saúde mental que poderia servir de exemplo ao resto da Europa, como resposta imediata a questão, sendo possivelmente este, o legado mais prejudicial da guerra, ou,  impacto na saúde mental em escala sem precedentes na Europa desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Globalmente, estima-se que uma em cada cinco pessoas em ambientes de conflito tenha uma condição de saúde mental,  sendo que 22% da população da Ucrânia por exemplo, vive  em áreas afetadas por conflitos, a qualquer momento em período de 10 anos, provavelmente terá algum tipo de problema de saúde mental, sendo que,  uma em cada 10 pessoas sofrerá uma condição moderada ou grave como depressão, comportamento suicida ou psicose. Pessoas com problemas de saúde mental pré-existentes que antes dependiam de saúde mental pública e assistência social, enfrentam desafios adicionais no acesso aos serviços que precisam. Populações em partes mais seguras da Ucrânia por exemplo, são afetadas pela ansiedade ou tristeza, dificuldade para dormir, fadiga, raiva e sintomas somáticos inexplicáveis, reações normais a situações anormais e, para a maioria das pessoas, esses sintomas melhoram com o tempo,  se puderem atender necessidades básicas e acessar apoio social, desafio neste momento. Mesmo antes da guerra, a Ucrânia havia embarcado em ambicioso processo de reforma da saúde incluindo esforços para fortalecer serviços de saúde mental, permitindo que o sistema de saúde mental fosse mais amplo e respondesse rapidamente à emergência em andamento dada a crescente inclusão no ecossistema de saúde pública mais amplo, permitindo melhores ligações entre a atenção primária à saúde e a saúde mental.

Moral da Nota: estudo mais recente da ONU mostra quase 100 milhões de pessoas deslocadas à força no mundo no final de 2021, daí, intervenções psicológicas e manejo clínico das condições de saúde mental devem ser ampliados.  O Mental Health Gap Action Program, mhGAP,  estabelece protocolos clínicos para ambientes não especializados, como cuidados primários de saúde permitindo que médicos de família e enfermeiros identifiquem e gerenciem condições comuns de saúde mental incluindo as relacionadas ao estresse.