A Kyodo News informou que o governo do Japão vai despejar 1,25 milhão de toneladas de águas residuais radioativas no Oceano Pacífico, a partir de dois anos, que se acumularam ao redor da usina de Fukushima Daiichi desde 2011 após terremoto e tsunami resultante. O plano, segundo o governo, é a melhor maneira de descartar a água usada para evitar que os núcleos danificados dos reatores das usinas destruídas explodissem. Decidiu liberar gradualmente no oceano toneladas de águas residuais tratadas das ruínas da usina, apesar da forte reação dos pescadores e preocupação dos governos da China e Coréia do Sul. O plano, amplamente criticado, começa liberar gradualmente em dois anos águas residuais no oceano provavelmente ao longo de décadas e já aprovado na reunião de gabinete de ministros no dia 12 de abril de 2021, despejará mais material radioativo que foi anteriormente declarado. De acordo com o The New York Times, para evitar o derretimento dos núcleos restantes dos reatores, a Tokyo Electric Power Company, TEPCO, bombeou 200 toneladas de água de resfriamento contaminadas que foram armazenadas em mais de mil tanques no local e filtradas para remover material radioativo, exceto o trítio, isótopo radioativo de hidrogênio considerado perigoso em grandes quantidades à saúde humana conforme a Health Physics, organização sem fins lucrativos.
A série "Chernobyl" da HBO, dramatiza o colapso de 1986 no Complexo Energético na Ucrânia e consequências do derretimento nuclear que abalou a cortina de ferro. Chernobyl e Fukushima Daiichi liberaram radiação cujos impactos foram de longo alcance e longa duração. As circunstâncias dos acidentes se comparam, embora apenas um reator explodisse em Chernobyl e três reatores sofreram colapso em Fukushima. O acidente em Chernobyl, mais perigoso, danificou o núcleo e se desenrolou de modo rápido e violento segundo Edwin Lyman, cientista sênior e diretor interino do Projeto de Segurança Nuclear da União de Cientistas. Em ambos os acidentes o iodo-131 radioativo representou ameaça mais imediata pela meia-vida de oito dias, ou seja, metade do material radioativo se decompôs nesse período e seus efeitos logo se dissiparam. Em ambos os colapsos os riscos de longo prazo surgiram a partir do estrôncio-90 e do césio-137, isótopos radioativos com meia-vida de 30 anos. Segundo o Times, Chernobyl criou enorme nuvem de radioatividade que se dispersou mais amplamente que a radioatividade liberada por Fukushima, sendo que na Ucrânia dois trabalhadores foram mortos pela explosão inicial e 29 morreram por radiação nos três meses seguintes, muitos se expondo de modo consciente à radiação mortal enquanto trabalhavam para proteger a usina e evitar mais vazamentos. A Agência Internacional de Energia Atômica informou que foram alocados pelas autoridades ucranianas 200 mil pessoas, sendo que nos anos que se seguiram o câncer infantil disparou no país em mais de 90%. Relatório emitido pelas agências da ONU em 2005, estimou que 4 mil pessoas poderiam morrer consequente exposição à radiação de Chernobyl. O Greenpeace International estimou em 2006 que o número de mortes na Ucrânia, Rússia e Bielo-Rússia poderia chegar a 93 mil pessoas com 270 mil desenvolvendo câncer que de outro modo não o fariam. A OMS fala que em Fukushima não houve mortes ou casos diretos por radioatividade entre trabalhadores ou população, no entanto, a resposta agressiva do Japão no desastre transferindo 100 mil pessoas de suas casas perto de Fukushima, segundo a Associação Nuclear Mundial, possa ter causado indiretamente mil mortes na maioria com 66 anos ou mais.
Moral da Nota: de acordo com o Times, usinas nucleares no mundo descarregam no mar rotineiramente água com pequenas quantidades de trítio e um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA chamou o plano de "em corformidade com padrões de segurança nuclear aceitos globalmente". Estudo publicado na revista Science em agosto de 2020 encontrou traços de vários outros isótopos radioativos nas águas residuais de Fukushima, muitos dos quais demoram muito mais para se decompor do que o trítio. De acordo com a NPR, capturas de peixes na área estão em 17,5% dos níveis anteriores ao desastre, com o temor dos pescadores que seus empregos se tornem "impossíveis" caso prossiga o descarte das águas residuais. Em fevereiro, a mídia japonesa relatou interrupção de embarques de peixe-rocha, após ser encontrada perto de Fukushima amostra capturada com níveis inseguros de césio radioativo. A radiação da água contaminada que escapou de Fukushima atingiu em 2014 a costa oeste da América do Norte, considerada baixa para representar ameaça à saúde humana, em 2018, pesquisadores relataram que os vinhos produzidos na Califórnia após o acidente de Fukushima tinham níveis elevados de césio-137 radioativo, mas o Departamento de Saúde Pública da Califórnia declarou que não eram perigosos ao consumo.