A reestruturação do tempo e sua normatização de contagem, necessáriamente remete ao Cristianismo e a Idade Média. Foram os escritos de Bede, o Venerável, que espalharam no século oitavo os tratados cronológicos, adaptando antigos sistemas de datação às necessidades cristãs. Daí advém a data da indicação, os ciclos de quinze anos provavelmente de origem egípcia, os anos de reinado dos imperadores e o Ano Domini marcando o nascimento de Cristo a 25 de março, ou a data da Encarnação do filho de Deus.
O nascimento de Cristo se enquadra em um Martirológico romano dos primeiros séculos, quando uma série de tempos sagrados e históricos tornam-se o marco temporal da tradição Ocidental até nossos dias. Relembremos: "No verão 5199 desde a criação do mundo, em 2957 desde o dilúvio, 2015 a partir do nascimento de Abraão, 1510 de Moisés e o êxodo dos judeus do Egito, 1032 desde a coroação do rei Davi, na 65ª semana da profecia de Daniel, na 194 Olimpíada, no verão 752 desde a fundação da cidade de Roma, no verão 42 do reinado de Octavius Augustus, quando a paz reinou por toda a terra, Jesus Cristo, eterno Deus e filho do eterno Pai, nasceu homem da Virgem Maria."
Moral da história: o Anno Domini generalizou-se na Cúria Papal e na maioria dos reinados Cristãos, sendo que o tempo Medieval não era unificado consistindo no tempo eclesiástico dos ofícios religiosos, o tempo camponês sujeito aos ciclos agrários e imprevisibilidade das inclemências e cataclismos, o tempo urbano dos mercadores e artesãos na expansão urbana e práticas econômicas, o tempo guerreiro governado pelas estações do ano permitindo as campanhas militares e o tempo dos reis e governantes tentando sujeitar a todos sob seu controle.