Paradoxal é algo que contém ou envolve um paradoxo, incoerente ou absurdo, contraditório, ridículo, esquisito, disparatado, insensato. Na lógica clássica, uma contradição que consiste em incompatibilidade lógica entre duas ou mais proposições quando tomadas em conjunto gerando conclusões que formam inversões lógicas, opostas uma da outra. Nesta ideia, a afirmativa aristotélica da não-contradição que "não se pode dizer de algo que é e que não é no mesmo sentido e, ao mesmo tempo" e, fora da lógica clássica, fala-se de contradições entre ações presumindo motivos.Já o anacronismo nos remete ao erro cronológico, quando determinados conceitos, objetos, pensamentos, costumes ou eventos, são usados para retratar época diversa daquela a que de fato pertence. Caracteriza-se pelo desalinhamento ou falta de correspondência entre particularidades das diferentes épocas, quando fatores próprios de cada tempo são de modo equivocado misturados em uma mesma narrativa. O acontecer em relatos históricos, narrativas literárias e obras artísticas baseados em “fatos reais” ou ficção, como desafio à historiadores e pesquisadores entenderem pensamentos e conceitos antigos sob o olhar da contemporaneidade, visto sobre temas específicos, eram diferentes no passado que nos dias atuais.
A quarta edição do relatório "Cumplicidade na Destruição" lançado pela Amazon Watch em parceria com a APIB, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, aponta à atuação de nove mineradoras com atividades impactando territórios protegidos da Amazônia, com bancos sediados nos EUA como principais financiadores. Nesta ideia estão as gestoras Capital Group, BlackRock e Vanguard além do Citigroup e SMBC do Japão, investindo US$ 14,8 bilhões em nove gigantes do setor de mineração atuando na Amazônia brasileira, com algumas das principais mineradoras possuindo mais de 2,6 mil requerimentos ativos com sobreposições ou interferência direta em 214 terras indígenas na Amazônia. As áreas indígenas mais afetadas pelos requerimentos são ocupadas pelos Kayapó, Waimiri Atroari, Munduruku, Mura e Parakanã, entre outros, sendo que cinco requerimentos estão em áreas onde vivem em isolamento voluntário a etnia Apiaká. O relatório aponta que a mineração na Amazônia causou aumento de 62% no desmatamento entre 2018 e 2021, atividade responsável por até 28% dos gases efeito estufa lançados globalmente, sendo que a última investigação descobriu que financiadores internacionais investiram US$ 54.1 bilhões nas empresas de mineração descritas no relatório. Vale e Anglo American alegam que retirariam seus pedidos de pesquisa e exploração mineral desses territórios, com pesquisas anteriores da Nature Communications avaliando que projetos de mineração podem aumentar a perda de floresta em até 70 km além do local de operação pretendido. Nos últimos cinco anos, Vale, Anglo American, Belo Sun, Potássio do Brasil, Mineração Taboca e Mamoré Mineração e Metalúrgia, Glencore, AngloGold Ashanti e Rio Tinto receberam US$ 54.1 bilhões em financiamento de investidores americanos, brasileiros, canadenses e europeus, sendo que a Vale recebeu US$ 35,8 bilhões. Instituições brasileiras detêm participação no financiamento da mineração de grande porte como a PREVI, Fundo de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, que detém os maiores investimentos nessas mineradoras com mais de US$ 7.4 bilhões, seguida pelo Bradesco com quase US$ 4.4 bilhões.
Moral da Nota: compreender a questão ambiental ensina que não é fruto de discussão político-ideológica em mesa de bar, mas resultado de equação forjada ao longo do século XX, em aberto, sobre resultados de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, O paradoxo que vivemos no caso americano com pressão governamental pela preservação da amazônia e, por outro lado, a iniciativa privada investindo na mineração nos leva à nível interno questionar nosso conceito de Desenvolvimentismo. Ideia que nos introduz nos idos de 1970 com a transamazônica, o projeto Jari, o manganês do Amapá, a serra do Tumucumaque, a última fronteira da soja no Mato Grosso e a emblemática Serra Pelada, que pedem arejamento científico e tecnológico nos tirando do anacronismo cego, urgindo atualização.