Desprescrição é termo novo, definida como processo supervisionado de redução de dose ou interrupção no uso de medicamento que pode causar dano ou não ter benefícios, utilizado a longo prazo, cujo objetivo é reduzir dano ao paciente, custos e aumentar a qualidade de vida. Depende de fatores como preferência do médico prescritor, forma de organização do serviço, preferência do paciente, marketing e comércio que envolve a utilização. Existem evidências do benefício da desprescrição e algoritmos para auxiliar no processo de decisão de diferentes medicamentos em situações diversas, fato, decorrente da medicalização social e necessidade de uso racional de medicamentos, com pesquisadores brasileiros traduzindo algoritmos desenvolvidos pelo CADEN, Canadian Deprescribing Network em parceria com canadenses e outros países.
Idosos são vulneráveis a eventos adversos de determinadas medicamentos, como, psicotrópicos, anti-inflamatórios não-hormonais e anticolinérgicos, no entanto, em determinadas situações, nem sempre é fácil a suspensão dos mesmos. A base de desenvolvimento se ancora em 30% dos pacientes idosos que empregam 5 ou mais medicamentos/dia, correspondendo a polifarmácia, daí, tratar-se de população com alto risco de complicações associadas, como reações adversas, interações e prescrição, consideradas impróprias. Cerca de 50% dos idosos hospitalizados e institucionalizados recebem um ou mais medicamentos que poderiam ser considerados desnecessários, demonstrado por eventos adversos, no mínimo 15% dos idosos, levando à piora da funcionalidade, descompensação clínica, hospitalização e óbito, sendo o número de medicamentos empregados é o principal fator de risco à complicações. Há evidência do alto risco de eventos adversos associados à polifarmácia, daí, a taxa de desprescrição segura de anti-hipertensivos, psicotrópicos e benzodiazepínicos varia de 20% a 100% sem complicações. A redução do risco de quedas com melhora cognitiva e funcional pós suspensão de medicamentos de ação no Sistema Nervoso Central em pacientes demenciados e de antipsicóticos de uso contínuo, foi reportada como segura em até 80% dos idosos avaliados. Estudo demonstra que a interrupção de anti-hipertensivos mostrou associação com menos eventos cardiovasculares e óbito em período de 5 anos de seguimento. A desprescrição deve ser considerada no surgimento de um novo sintoma ou síndrome clínica, compatíveis com um evento adverso, em estágios finais de doenças terminais, fragilidade extrema, grave prejuízo da funcionalidade, uso de medicamentos com alto potencial à complicações e situações que a interrupção não levará ao agravamento da doença em questão, por exemplo, interrupção do alendronato de sódio pós 5 anos de tratamento de osteoporose. Pesquisa realizada pelo Grupo de Trabalho de Doenças Infecciosas da Sociedade Espanhola de Medicina Familiar e Comunitária, semFYC, indica que 92,5% dos médicos usaram estratégia de desprescrição de antibióticos na prática clínica pelo menos uma vez. Aborda situações propensas à desprescrição, mais comum quando o paciente apresenta gripe, 93,5%, e em 50 % dos casos de bronquite aguda considerado desnecessário. Estimativa do Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, ECDC, publicado no The Lancet Infectious Diseases' mostra que infeções bacterianas resistentes a antibióticos causaram 33 mil mortes na Europa em 2015 decorrente resistência antimicrobiana, relacionada ao uso de antibióticos de espectro inadequado ou por tempo longo, daí, uma das estratégias dos médicos de família, sobretudo nos Cuidados de Saúde Primários, recorrer à desprescrição.
Moral da Nota: artigo sobre atenção básica do Canadá, University of Ottawa, envolve ARBs, benzodiazepínicos, com diretrizes auxiliando médicos desprescrevê-los de forma segura. Baseadas em evidências e publicadas no Canadian Family Physician, observa que benzodiazepínicos são prescritos ao tratamento a longo prazo da insônia em adultos, apesar dos benefícios a curto prazo, como rapidez em iniciar o sono, no entanto, o uso crônico pode levar à dependência física e psicológica. Evidências mostram que a eficácia diminui pós 4 semanas permanecendo efeitos adversos como quedas, demência, acidentes automobilísticos, dependência física, etc, e a alta prescrição no tratamento da insônia foi consenso entre familiares, médicos, enfermeiras e geriatras que os ARBs são medicamentos mais importantes no desenvolvimento de diretrizes de desprescrição. A pesquisa cria ferramentas como algoritmo de apoio à decisão e panfleto de informações do paciente, destinando-se apoiar profissionais de saúde no envolvimento dos pacientes implementando planos de desprescrição disponibilizada na atenção primária do Canadá.