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sábado, 24 de julho de 2021

Biogás no Brasil

No seminário do Fórum Sul-Brasileiro de Biogás e Metano, em participação por videoconferência, emerge a explicação que o aviário é aquecido por biogás mitigando forno a lenha em Toledo no Paraná, dispensando recarregamento com  madeira para aquecer as aves nas primeiras semanas de vida. O esterco à produção de biogás é oriundo de 9 mil porcos "creche" do município com o maior rebanho suíno do Brasil, estimado em quase 1,2 milhão unidades. Em Laurentino, Santa Catarina, agricultores explicam que a alternativa os libertou da lenha e permitiu água quente 24 horas/dia e, a 120 kms do litoral, um pequeno biodigestor em 2008 como "teste" acarretou seis anos depois um que permitia abastecer o fogão e manter sistema que aquece toda a água da casa o dia inteiro, descartando lenha e chuveiro elétrico, economizando US$ 90/mês. No Nordeste o biogás se insere no movimento de superação da pobreza rural no Semi-árido pelas chamadas tecnologias sociais, das quais os mais conhecidos são os tanques de armazenamento da água da chuva para consumo humano e irrigação na agricultura familiar. As cisternas somam mais de 1,3 milhão, segundo o coordenador da Diaconia no Sertão do Pajeú, território de 20 municípios do interior do estado nordestino, implicando em  “tornar política pública como as cisternas, acrescentando segurança energética à segurança hídrica e alimentar já contemplada”. O Biodigestor Sertanejo, modelo nacional, conta com 800 unidades construídas no Brasil, a maioria na ecorregião Semiárido Nordeste, iniciativa que ganhou descrição na terceira edição de 2019 da revista RedBioLAC da Rede de Biodigestores para América Latina e Caribe. No Ceará, o Centro de Estudos e Aconselhamento ao Trabalhador, Cetra, executa desde 2017 projeto que prevê construção de 1.800 biodigestores com apoio de várias instituições nacionais e estrangeiras, sendo que o digestor biológico construído abastece de biogás a padaria da cooperativa de mulheres em Pombal, município da ecorregião do Semiárido na Paraiba.

Relatório divulgado pela Conferência da ONU ao Comércio e Desenvolvimento, Unctad, aponta que países em desenvolvimento devem recorrer à tecnologia para escapar da armadilha da dependência das exportações de commodities. A dependência significa que pelo menos 60% de suas receitas de exportação de mercadorias vêm de bens primários como cacau, café, algodão, cobre, lítio e petróleo. Adverte que a maioria dos 85 países em desenvolvimento dependentes de commodities permanecerá "presa na armadilha a menos que passem por processo de transformação estrutural possibilitado pela tecnologia." A análise mostra que a probabilidade de dependência de commodities é associada a índices de baixa tecnologia como o Índice de Desenvolvimento de Tecnologia, que observa pontuação média em países dependentes de commodities de 1,55, comparados aos 5,17 para países em desenvolvimento dependentes de commodities como China, Índia, México, Turquia e Vietnã. Outro índice mostra a prontidão dos países à tecnologias de ponta como IA, IoT, blockchain e robótica, medida de 0,25 nos países em desenvolvimento dependentes das exportações de commodities e de 0,47 aos que não o são; nos países desenvolvidos o valor é 0,80. Conclui que cerca de 64% das economias em desenvolvimento dependem da exportação de commodities e a maioria corre o risco de continuar no caminho da dependência desses produtos a menos que adotem uma transformação tecnológica estrutural.

Moral da Nota: estudo do Banco Mundial divulgado em 2020, estima em 2,75 bilhões de pessoas precisam usar lenha ou carvão para cozinhar, vindo a morrer de câncer de pulmão, danos respiratórios e doenças cardíacas por absorver fumaça, sendo que especialistas reconhecem que a substituição de fogões tradicionais por cozinhas seguras e saudáveis ​​teria efeito dramático na saúde, meio ambiente e social. Já o relatório da Unctad sugere como solução à melhoria das infraestruturas físicas, a fiabilidade da eletricidade e Internet, além de normas e regulamentos que regem inovação e adoção de tecnologias, criação de instituições de investigação e desenvolvimento além de aquisição e manutenção da estabilidade macroeconômica. Exemplos de sucesso não faltam, como a Costa Rica que em 1965 os produtos alimentícios representavam 83% das mercadorias exportadas, Café e banana sozinhos representaram 68% contra apenas 7% de manufaturados e, 40 anos após, a contribuição do setor alimentício caiu para 24% com principais produtos de exportação sendo os microcircuitos eletrônicos, 26% e peças e acessórios, 15%. A Indonésia passou da dependência do petróleo em produtos processados, com a  diversificação da Malásia pela borracha e óleo de palma à produtos manufaturados como pneus e luvas médicas e a ascensão do Botsuana na cadeia de valor. A secretária-geral da Unctad explica que “se os países em desenvolvimento adotarem novas tecnologias e inovação e receberem apoio da comunidade internacional, se transformarão e usarão a riqueza de recursos para obter melhores resultados”.