Em modelo inspirado da Índia beneficiando principalmente mulheres agricultoras, 2 mil biodigestores foram construídos e novos projetos estão em andamento para difusão da tecnologia no semiárido nordestino. Impactando positivamente na economia familiar saúde humana e meio ambiente, o uso do biodigestor gera biofertilizante utilizado na agricultura e, melhores utilizados, quando combinados a estratégias de fortalecimento famíliar como as cisternas. A tecnologia social remonta a 2008 em Pernambuco composto por caixa de carga abastecida com água e esterco, tanque de fermentação isolado do ar e caixa de descarga, materiais que entram em decomposição gerando biogás cuja composição, o metano, é utilizado para cozinhar em substituição ao gás de botijão. Cerca de 2 mil biodigestores já foram construídos, desde o primeiro projeto com três unidades no município de Afogados da Ingazeira em Pernambuco.
O biofertilizante produzido pelo biodigestor decorrente geração de energia renovável impacta na qualidade de vida das famílias beneficiando mulheres, chefes de família e, históricamente, principais responsáveis pelo trabalho doméstico como o preparo de alimentos, abastecimento de lenha e provimento de água para beber e cozinhar. O alto preço do gás liquefeito de petróleo, joga o agricultor em fogões a lenha, prejudicando a saúde pela aspiração da fumaça e cinzas geradas na queima. Quase metade da área foi desmatada e, em processo de desertificação, abrangendo 13% do território do agricultor familiar. A extração constante de madeira aumenta os índices de desmatamento na parcela de terra dos pequenos agricultores, impactando negativamente flora e fauna, gerando prejuízos econômicos a longo prazo. Além da economia familiar, os biodigestores impactam positivamente na saúde humana e meio ambiente pelo uso constante do esterco proveniente da criação de animais do entorno, diminuindo emissão de gases efeito estufa e limpando currais, evitando reprodução de moscas e pragas. A produção do biogás libera como subproduto o biofertilizante, esterco com menor quantidade de gases e rico em nutrientes, que serve como adubo orgânico à agricultura familiar.
Moral da Nota: a utilização de esterco de porco no biodigestor duas ou três vezes por semana permite uma familia cozinhar a semana toda, segundo experiência da Associação Agroecológica de Agricultores do Sertão do Pajeú, AASP, em São José do Egito, um dos municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú no semiárido nordestino. A diluição do esterco na água é inodora gerando renda equivalente aos 100 reais da compra de um botijão de gás na região. A Bacia do Rio Pajeú se insere no clima semiárido determinado por seca e período reduzido de chuvas, de março a maio, sendo que acomete a nascente do Rio Pajeú e, no contexto da seca, a energia renovável via biodigestores se conecta a outras estratégias de fortalecimento famíliar, como é o caso das cisternas.