quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Bioeconomia

A preservação ambiental só poderá acontecer se garantir renda às populações locais, considerando que, segundo o IBGE, 36% dos 28 milhões habitantes da Amazônia Legal estão na pobreza, índice superior à média nacional, daí, o desafio de proteger território mais extenso que UE onde vivem 30 milhões de pessoas. Em contexto que a disparada dos preços do cacau impulsiona movimento crescente de produtores rurais buscando reduzir o rebanho de gado e apostar na matéria-prima do chocolate, ou, na economia da floresta em pé, onde o cacau desponta não apenas como alternativa promissora de renda e, sim, como vetor de recuperação de áreas desmatadas, cujos lados da Transamazônica predominam pastagens à criação de gado. Culturas agrícolas alternativas à pecuária, ou, complementares, aparecem como trilha para conter o processo de avanço da agricultura em direção à mata emergindo o cacau como a que melhor se associa à floresta nativa amazônica, ao lado do cumaru e andiroba, com manejo adequado, mais resistente às pragas, tem durabilidade e dá frutos de melhor qualidade com maior valor de mercado, ao contrário de outros produtores mundiais, na África por exemplo, onde a monocultura de cacau “a pleno sol” conduz ao desmatamento, no Brasil o plantio do fruto hoje ocupa áreas degradadas em consórcio com outras culturas. No Pará, líder nacional no setor, mais de 80% da produção do cacau vem da agricultura familiar e 70% se desenvolve em sistemas agroflorestais, conforme levantamento de 2022 da Embrapa Amazônia Oriental, na Bahia, o cacau alçou o país a maior produtor mundial no século 20, cuja produção em monocultura empobreceu a Mata Atlântica, aí, lições servindo de alerta ao avanço da cultura na Amazônia. O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola é um dos que levam capacitação técnica aos agricultores não repetirem erros do passado, ou, "a cacauicultura tem potencial de renda às famílias, para que não fiquem só dependentes da pecuária", com o técnico do Imaflora João Ávila, afirmando que, "o cacau é exemplo de retorno de atividades agrícolas rentáveis trazendo árvores ao sistema". A cultura exerce papel positivo contra a crise climática através do manejo adequado e à sombra de outras árvores com potencial de acumular no solo até 60 toneladas de carbono por hectare, operando como sumidouro de CO2 em regiões que sofrem cada vez mais com o desmatamento, sendo que o cultivo do fruto exige paciência e dedicação e a safra demora 4 anos para dar frutos, a poda é trabalhosa e, para sair pelo melhor preço, a amêndoa precisa ser fermentada, no final, o retorno financeiro compensa pois o kilo é comercializado a R$ 60 podendo chegar a R$ 90 conforme a qualidade.  

Relatório da ONU mostra que mudanças climáticas agravam pobreza num mundo de 900 milhões de pessoas, expostas a eventos climáticos extremos agravados pelo aquecimento global, “duplo problema” destacado pela ONU, com o Afeganistão enfrentando grave seca causada pelo clima forçando milhares abandonar suas casas e viver na pobreza. O diretor interino do Programa da ONU ao Desenvolvimento, PNUD, Haoliang Xu, avalia que “ninguém está imune aos impactos cada vez mais intensos e frequentes das mudanças climáticas, sendo os mais pobres os que mais sofrem”, segundo ele, as COPs, “devem ser oportunidade à que líderes mundiais tratem da ação climática como parte na luta contra a pobreza”. Considerando que o PNUD e o OPHI,Centro de Pesquisa Iniciativa de Oxford sobre Pobreza e Desenvolvimento Humano, publicam anualmente o Índice Global de Pobreza Multidimensional, reunindo dados de 109 países, abrangendo 6,3 bilhões de pessoas, índice que considera fatores como desnutrição, mortalidade infantil, falta de moradia adequada, saneamento básico, acesso à eletricidade e à educação. O relatório, avisa que 1,1 bilhão de pessoas viviam em 2024 em situação de "pobreza multifatorial aguda", metade, menores de idade, com números semelhantes aos de 2023 indicando estagnação preocupante em que 2 regiões concentram maiores índices de pobreza, a África Subsaariana com 565 milhões de pessoas e o Sul da Ásia com 390 milhões, ambas vulneráveis aos impactos climáticos, neste contexto, o PNUD e o OPHI destacam cruzamento entre pobreza extrema e exposição a riscos ambientais, ou, calor extremo, mais de 30 dias com temperaturas acima de 35°C, secas, poluição do ar, ou, partículas finas e enchentes. O resultado demonstra que 78,8% das populações pobres, 887 milhões de pessoas, estão expostas a pelo menos uma das ameaças, ou, calor extremo liderando, 608 milhões, seguido pela poluição, 577 milhões, enchentes, 465 milhões, e secas, 207 milhões, além de 651 milhões de habitantes enfrentando pelo menos 2 desses riscos, 309 milhões convivendo com 3 ou 4, e 11 milhões já sofreram os 4 em um único ano, o relatório conclui que, “o cruzamento entre pobreza e eventos climáticos extremos é claramente problema global”.

Moral da Nota: relatórios do Ministério do Planejamento e Divisão de Assuntos Econômicos do Paquistão avisam que enchentes afetaram mais de 6,5 milhões de pessoas em 70 distritos avaliando perdas estimadas em 822 bilhões, sendo que estimativas iniciais de perdas da Comissão de Planejamento e do FMI colocaram danos econômicos em 744 bilhões e 585 bilhões, respectivamente, mas o número atualizado decorre de danos na agricultura e infraestrutura como setores mais impactados. Com 1.037 mortos e 1.067 pessoas feridas, 229.763 casas danificadas, 59.258 completamente destruídas e 170.505 parcialmente, com análise das fatalidades mostrando que Punjab registrou 322 mortes, Khyber Pakhtunkhwa 509, Sindh 90, Baluchistão 38, Gilgit-Baltistan (GB) 31, Azad Jammu e Caxemira (AJK) 38 e Islamabad 9. Em termos de feridos, Punjab relatou 665, KP 218, Sindh 87, Baluchistão 5, GB 52, AJK 37 e Islamabad 3. Agricultura e infraestrutura rural em Punjab estiveram entre as mais impactadas em 27 distritos afetados por enchentes onde transbordamentos dos rios Sutlej, Chenab e Ravi causaram destruição generalizada, sendo que as operações de resgate incluíram 5.769 missões evacuando mais de 3 milhões de pessoas à locais seguros, sendo que causaram perda de 22.841 animais de criação e distribuição de 20.663 toneladas de suprimentos de socorro e o governo forneceu 2 bilhões de rúpias em indenização às famílias, ou, 2 milhões de rúpias por pessoa. A infraestrutura mostrou danos afetando 91 localidades em Gilgit-Baltistan, 47 em Khyber Pakhtunkhwa, 12 no Baluchistão, 20 em Punjab e 2 em Sindh com pontes importantes em Punjab danificadas e,atualmente, 949 acampamentos de socorro e médicos auxiliam 152.252 pessoas enquanto 741 acampamentos médicos trataram 662.098 indivíduos.