terça-feira, 2 de abril de 2024

Biologia digital

Jensen Huang, presidente da Nvidia, que vende chips e servidores IA, afirmou que a “biologia digital” será a “próxima revolução surpreendente” à IA, “um dos maiores de todos os tempos” e, “pela primeira vez na história da humanidade, tem oportunidade de ser engenharia, não ciência”, sendo que a esperança à IA é que o software possa direcionar pesquisadores à novos tratamentos que nunca teriam pensado por conta própria, tal como um chatbot, que fornece esboço ao trabalho final, a IA acelera fases iniciais de descoberta de novos tratamentos e apresenta propostas sobre quais alvos atingir com as drogas e como poderiam ser essas drogas.  De acordo com o Boston Consulting Group, BCG, infladas pela IA, startups levantaram US$ 18 bilhões entre 2012 e 2022 sendo que a Insílico, que permanece privada e tem operações em Taiwan e China, é financiada com mais de US$ 400 milhões pela empresa de private equity Warburg Pincus e pelo cofundador do Facebook, Eduardo Saverin, entre outros. Relatório estima que empresas farmacêuticas gastam US$ 6 bilhões em investigação e desenvolvimento à cada novo medicamento que entra no mercado, em parte, porque a maioria dos candidatos a medicamentos fracassa ao passo que o processo leva em média 10 anos, sem ter a certeza se IA pode realmente tornar mais eficiente a busca pelas drogas, no entanto, outro estudo do BCG, de 2022, determinou que biotecnologias “nativas da IA”, aquelas que dizem que IA é fundamental à sua investigação, promoveram onda de novas ideias de medicamentos.  Consultores contaram 160 candidatos a produtos químicos testados em células ou animais e outros 15 em testes iniciais em humanos, número sugerindo que as drogas geradas por computador podem tornar-se comuns, o que o BCG não conseguiu determinar foi se os medicamentos habilitados à IA estavam progredindo mais rapidamente que o ritmo convencional, embora tenham escrito que “uma das maiores esperanças à descoberta de medicamentos habilitados à IA é aceleração de prazos”. 

O programador e físico Alex Zhavorondov, em 2016, usava IA para classificar pessoas pela aparência e fotos de gatos, atualmente, através de sua empresa, a Insílico Medicine, criou o primeiro “verdadeiro medicamento IA” que avançou à teste de cura de doença pulmonar fatal em humanos, diz que  o medicamento é especial porque o software de IA não apenas ajudou decidir com qual alvo dentro da célula interagir, mas qual deveria ser a estrutura química do medicamento. Fala que ambas as abordagens foram usadas para encontrar o medicamento candidato da Insílico, cujo rápido progresso, 18 meses para o composto ser sintetizado e os testes completos em animais, é demonstração que IA pode tornar a descoberta de medicamentos mais rápida, considerando que a biotecnologia viu novas startups prometendo usar IA para acelerar pesquisas de medicamentos, incluindo nomes como Recursion Pharmaceuticals e, recentemente, Isomorphic Labs, um spin-out da divisão Deep Mind do Google. Com histórico de implementação de métodos IA de ponta assim que disponíveis, iniciou a Insílico em 2014, logo depois que IA começou alcançar avanços no reconhecimento de imagens com os chamados modelos de aprendizagem profunda, sendo que a nova abordagem destruiu técnicas anteriores de classificação de imagens e tarefas como encontrar gatos em vídeos YouTube, com Zhavoronkov inicialmente encontrando notoriedade e  controvérsia em aplicativos IA que adivinhavam a idade das pessoas e em um programa que classificava pela aparência.  Seu software de concurso de beleza, Beauty.AI, provou ser um passo em falso no preconceito IA quando foi criticado por escolher poucas pessoas com pele escura, em 2016, porém, sua empresa propunha abordagem “generativa” para imaginar novos medicamentos em que métodos generativos criam novos dados como desenhos, respostas ou músicas com base em exemplos nos quais foram treinados, caso do aplicativo Gemini do Google.  Em 2022, a Nimbus vendeu um produto químico promissor a gigante farmacêutica japonesa por 4 bilhões utilizando abordagens computacionais para projetar o composto, embora não estritamente IA, seu software modela a física de como as moléculas se unem e, em 2023, a Insílico vendeu um candidato a medicamento inicialmente proposto pela AI à empresa Exelixis, por US$ 80 milhões, “mostrando como estão dispostos a pagar muito ”, ao passo que seu software chamado Chemistry42, leva 72 horas para propor produtos químicos que possam interagir com ele estando à venda e usado por várias empresas farmacêuticas.  A Insilico publicou artigo na Nature Biotechnology descrevendo medicamento candidato a doença pulmonar, fibrose pulmonar idiopática, detalhando como o software IA sugeriu possível alvo, a proteína chamada TNIK, e vários produtos químicos que poderiam interferir nele, um dos quais foi então testado em células, animais e, finalmente, em humanos em testes iniciais de segurança.  Observadores consideraram o artigo demonstração abrangente de como desenvolver um candidato a medicamento usando IA, com Timothy Cernak, professor assistente de química medicinal na Universidade de Michigan, na publicação Fierce Biotech dizendo que “realmente faz, da sopa às nozes, tudo”, desde então, o medicamento avançou à ensaios de Fase II na China e EUA, que procurarão provas iniciais sobre se é realmente útil à pacientes com doença pulmonar, cujas causas permanecem misteriosas e levam à morte em poucos anos.  Embora Zhavoronkov afirme que o produto químico é o primeiro verdadeiro medicamento IA a ir tão longe e o primeiro de uma IA “generativa”, a definição nebulosa de IA torna sua afirmação impossível confirmar, neste verão, o apresentador da CNBC, Joe Kernen, observou que em 2023, muitas empresas decidiram racionalizar o design de medicamentos usando computadores. 

Moral da Nota: Chris Gibson, CEO da Recursion Pharmaceuticals, rejeitou a afirmação de Zhavoronkov, dizendo que IA encontrou seu caminho em pesquisas sobre medicamentos que avançaram à Fase II, incluindo 5 de sua empresa que usou IA para classificar imagens de como células respondem aos medicamentos, “um dos muitos programas que afirmam ser o ‘primeiro’ nos últimos anos, dependendo de como divide o uso da IA”, “podendo ser usada para muitos aspectos da descoberta de medicamentos” sendo que céticos dizem que criar candidatos a medicamentos não é o verdadeiro gargalo, pois os contratempos mais dispendiosos ocorrem frequentemente em testes posteriores, caso um medicamento não demonstre benefícios quando testado em pacientes.  Em 2023 a biotecnologia Benevolent AI, sediada no Reino Unido, despediu 180 pessoas, metade do pessoal, e reduziu operações depois do seu principal medicamento não ter conseguido ajudar pessoas com problemas de pele, promovido como “mecanismo de descoberta de medicamentos habilitado à IA” que poderia prever “alvos de alta confiança” e “melhorar a probabilidade de sucesso clínico”.