Bill Gates no livro intitulado "Como evitar um desastre climático", destacou o hidrogênio renovável ou e-Hydrogen ou hidrogênio verde como a melhor inovação dos últimos anos no combate ao efeito estufa, dizendo no podcast Armchair Expert, "não sei se teremos sucesso para produzir hidrogênio verde a preço acessível, mas se tivéssemos isso, resolveria muitos problemas". A história se inicia com o hidrogênio como elemento químico mais abundante do universo com três vezes mais energia que a gasolina, além do fato de ser energia limpa, pois libera água na forma de vapor, não produz CO2 e só usado em ocasiões especiais como alimentar espaçonaves da NASA. Várias razões limitaram seu uso pois é considerado perigoso por ser altamente inflamável, transportá-lo e armazená-lo com segurança é desafio. Dificuldades em produzi-lo separando de moléculas para ser usado como combustível é, até agora, caro.
A Repsol, BP e Shell estão entre as que lançaram projetos de hidrogênio verde com nações publicando planos de produção nacional ao combustível renovável, incluindo a UE com sua "Estratégia do Hidrogênio para uma Europa Neutra do Clima", publicada 2020, comprometendo investir US$ 430 bilhões em hidrogênio verde até 2030, instalando eletrolisadores de hidrogênio renovável de 40GW na próxima década para atingir a meta de se tornar neutra ao clima até 2050. A coalizão formada pelo grupo saudita de energia limpa ACWA Power, a australiana CWP Renewables, a fabricante chinesa de turbinas eólicas Envision, as européias de energia Iberdrola e Orsted, o grupo italiano de gás Snam e a produtora norueguesa de fertilizantes Yara, desenvolvem projetos de hidrogênio verde na iniciativa Hidrogênio Verde como parte da campanha Corrida à Zero da Convenção da ONU sobre Mudança Climática. O objetivo é multiplicar por 50 a produção nos próximos seis anos e cortar o custo atual do hidrogênio renovável pela metade para menos de US$ 2,00/kg. Relatório da consultoria de energia Wood Mackenzie sugere que estão no caminho certo, estimando que os custos cairão até 64% na próxima década, enquanto o banco de investimento Goldman Sachs estimou que o mercado de hidrogênio verde ultrapassará US$ 11 trilhões em 2050. Há alguns anos o hidrogênio começou ser produzido a partir de energias renováveis com sol e vento por processo de eletrólise, que usa corrente elétrica para dividir água em hidrogênio e oxigênio em dispositivo chamado eletrolisador, resultando no hidrogênio verde, 100% sustentável, mais caro de se produzir que o hidrogênio tradicional. Atualmente, segundo a Agência Internacional de Energia, 99% do hidrogênio usado como combustível é produzido a partir de fontes não renováveis e menos de 0,1% é produzido pela eletrólise da água.
Moral da Nota: a Forbes chamou de "a energia do futuro" projetos ao redor do mundo, em fase de planejamento, ampliando a capacidade atual de cerca de 80 GW para mais de 140 GW. Seis países lideram a produção de hidrogênio verde com a Austrália com propostas de 5 megaprojetos relacionados a energia eólica e solar. O maior projeto, no país e no mundo, é o Asian Renewable Energy Hub em Pilbara, com previsão de construir usinas com eletrolisadores de capacidade total de 14 GW a custo de US$ 36 bilhões devendo estar pronto até 2027-28. Outros quatro projetos estão na fase de planejamento acrescentando 13,1 GW, se aprovados. A Shell lidera o projeto NortH2 no Porto de Ems, norte da Holanda, prevendo a construção de 10 GW de eletrolisadores com meta de 1GW até 2027 e 4GW até 2030, com energia eólica offshore, sendo que o hidrogênio gerado está planejado para utilização na indústria pesada na Holanda e Alemanha. O maior projeto alemão é o AquaVentus na ilha de Heligoland no Mar do Norte, para construir 10 GW até 2035 sendo que um consórcio de 27 empresas, instituições de pesquisa e organizações incluindo a Shell que promove o projeto, usando ventos da região como fonte de energia. Em Rostock, na costa norte da Alemanha, um consórcio liderado pela empresa de energia local RWE planeja construir outro 1 GW de energia verde. A China, maior produtor mundial de hidrogênio, planeja entrar no mercado de hidrogênio verde com a construção de projeto na região autônoma da Mongólia Interior, no norte do país, liderado pela concessionária estatal Beijing Jingneng, que investirá US$ 3 bilhões para gerar 5 GW a partir de energia eólica e solar. A Arábia Saudita planeja entrar no mercado de hidrogênio verde com o chamado Projeto Helios Green Fuels, localizado na "cidade inteligente" do NEOM às margens do Mar Vermelho na província de Tabuk no noroeste do país, projeto de US$ 5 bilhões que instalará até 2025, 4 GW de eletrolisadores. O Chile, considerado meca da energia solar, apresentou a "Estratégia Nacional do Hidrogênio Verde" possuindo em desenvolvimento o HyEx da empresa francesa de energia Engie e a empresa chilena de serviços de mineração Enaex e Highly Innovative Fuels, HIF, da AME, Enap, Enel Green Power, Porsche e Siemens Energy. O primeiro, sediado em Antofagasta usará energia solar para alimentar eletrolisadores de 1,6 GW com o hidrogênio verde, usado na mineração, com teste piloto inicial planejando instalar 16 MW até 2024. Na ponta oposta do Chile, O projeto HIF em Magalhães e região antártica chilena, usará energia eólica para gerar combustíveis verdes à base de hidrogênio, sendo que “o piloto usará um eletrolisador de 1,25 MW e nas fases comerciais superior a 1 GW”. O ministro da Energia do Chile disse que o país não busca apenas gerar hidrogênio verde para cumprir sua meta de atingir a neutralidade de carbono até 2050, mas exportar o combustível limpo no futuro, dizendo na revista Electricidad “se fizermos as coisas certas, a indústria do hidrogênio verde no Chile pode ser tão importante quanto mineração, silvicultura ou salmão".