terça-feira, 3 de setembro de 2019

Enfrentamento jurídico

A Purdue Pharma em 1996 introduziu no mercado americano o OxyContin, opiáceo causador de dependência, ponto de partida da crise que nos últimas 20 anos fez mais de 6 mil mortos por overdose. Está em processo de negociação de acordo no valor de 11,8 bilhões de dólares, diante ações judiciais decorrentes a crise dos opiáceos. Acumula mais de dois mil processos judiciais federais e estaduais movidos por estados, cidades e municípios americanos, litígios estes que deseja resolver via acordo judicial. Avaliado entre 10 e 12 bilhões de dólares na qual a família Sackler, dona da farmacêutica, assumirá em torno de três bilhões de dólares. O restante recairá sobre bens da Purdue Pharma, seu inventário, que continuará comercializado com lucros revertidos em favor dos beneficiários do acordo. A Purdue Pharma será reestruturada após declaração de falência, transformando-se em fundo público, oferecendo tratamentos contra dor a base de buprenorfina ou naxolona. Será vendida  por 1,5 bilhão de dólares a Mundipharma da família Sacklers. O entendimento, caso em bom termo, coloca a Purdue Pharma como primeira a fechar acordo de uma série de empresas farmacêuticas americanas em litígio devido a "epidemia" dos opiáceos.
Nos anos 90 empresas de tabaco julgadas em tribunal por danos a saúde, enfrentaram além de indenizações ameaça de redução do mercado, daí, virarem-se a países em desenvolvimento, através de circuitos de distribuição e campanhas de marketing em escala planetária. Em documento de 1992 executivo da Rothmans, dizia que “pensar sobre as estatísticas do tabaco na China era como pensar nos limites do espaço”. Além da China, principal fornecedor do fentanil, o Japão era mercado bastante desejado e a Índia não ficava muito atrás. Voltando aos opióides, a abertura de clínicas privadas de tratamento da dor cresce na Índia, país onde tradicionalmente se usa ópio para minorar dor. Além da Johnson, a Abbott Laboratories, a Purdue Pharma, a GlaxoSmithKline e outras não tem razões para temer o futuro. Classe média crescente dos países em desenvolvimento e consciência maior dos meios para tratar dor com variedade de condições, desde o câncer à esclerose múltipla, úlceras e fibromialgia, uma gama de pessoas exigem tratamento com correspondente descontrole das despesas com saúde. Relatórios apontam cenário com mercado de “crescimento espantoso” especialmente China e Índia, alguns países europeus e América Latina, nós do Brasil somos considerados promissores.
Moral da Nota: há nos EUA consenso quanto a sobreutilização de opióides no tratatamento de grande variedade de condições médicas envolvendo dor. A face mais exuberante desta visão chama-se Fentanil, opióide mais letal do momento nos EUA fornecido majoritariamente pela China. Em outros países muitas dessas condições não justificam o recurso ao medicamento em causa, cujo abuso influencia no viciar milhões de pessoas em opioides. A pior conclusão é que geralmente quando médicos tentam restringir acesso aos opióides, o doente já não consegue passar sem eles indo procurar drogas ilegais. “Para câncer, antes em agonia, fentanil da Johnson & Johnson”, "para trabalhadores de escritório de classe média com dores nas costas e pescoço, buprenorfina da Mundipharma" e para milhões de indianos idosos com dores articulares, injeções de tramadol da Abbott Laboratories”.