domingo, 24 de março de 2019

Rumo desconhecido

A divisão entre Atlântico e o Ártico é de natureza física, sendo que o mar de Barents do Sul é mais ameno ao passo que Barents norte possui características do Ártico. No degelo, o gelo marinho flutuante sobre a camada de água no oceano impede escape do calor interno à atmosfera, característica esta que mantém o oceano estratificado, quer dizer, na parte superior águas frias e frescas e na inferior águas mornas e salinas do Atlântico. É Importante lembrar que a água doce é menos densa que a água salgada mantendo a estratificação oceânica, daí, a ciência concluir que a relação entre o clima quente e frio se dá entre o sal e a água doce, cujo teor salino determina as camadas, sendo que a mudança deste paradigma determinará o clima no futuro. Em decorrência é crucial que a camada de água Ártica tenha teor salino inferior a Atlântica, determinando o controle da estratificação e a quantidade de água misturada nas profundidades oceânicas, isto é, água Atlântica pesada e salgada na profundidade e na superfície água Ártica doce e fresca com menor teor salino. O encontro destas zonas climáticas chama-se Frente Polar, situada no Mar de Barents Norte e Norte da Escandinávia com o leste do arqupélago de Svalbard.
Estudo da Nature Climate Change e Instituto de Pesquisa Marinha da Universidade de Bergen, tendo como base medições entre 1970/2016 de temperatura e salinidade no Mar de Barents, realizado pelos Institutos de Investigação Marinha e o russo PINRO, analisou a interação entre a camada de gelo e as várias camadas de água do mar, observando a partir do ano 2000 aumento da salinidade e da tempratura a -19,2ºC. Além do que em 2016 havia 40% menos água doce nas massas superiores do Ártico em relação 1970/1999, consequente a mistura progressiva de águas quentes e salgadas do Atlântico com instabilidade ambiental, declinio do gelo e perda de água doce. Daí o enfraquecimento da estratificação oceânica, com aumento dos fluxos de calor e sal, impedindo formação do gelo e aumentando em contrapartida do calor oceânico. A conclusão é que a coluna de água do Ártico será preenchida com água do Atlântico, determinando que o norte do mar de Barents passe de um regime frio e estratificado, a regime quente e misto dominado pelo Atlântico e com mudanças na composição climática.
Pesquisadores da Universidade Rutgers avisam que a perda de gelo Ártico impacta a corrente atmosférica, fortalecendo a formação de alta pressão ao redor dos Montes Urais levando a clima extremo no inverno da Eurásia (Rússia e Turquia), com persistentes períodos de frio no leste da Ásia de consequências incertas. Setores da sociedade como pesca, petróleo e turismo sofrerão mudanças como os estoques de bacalhau já ocupando o norte de Barents, ao lado do desaparecimento de espécies ligadas ao gelo. Desnecessário lembrar a perda de habitat por ursos polares e focas. Se nada disso interessar, o foco estabelece na navegabilidade Ártica o ano todo, além das enormes quantidades de gás metano vazando de forma progressiva nas antigas áreas eternamente geladas, sem contar a radical mudança no equilíbrio de forças ambientais.